O filme frenético e alucinante da Netflix que não vai te deixar piscar nem por um instante Son Ik-chung/Netflix

O filme frenético e alucinante da Netflix que não vai te deixar piscar nem por um instante

O filme “Carter”, dirigido pelo sul-coreano Jung Byung-Gil, explora de maneira provocativa a vulnerabilidade humana diante da tecnologia, que ao mesmo tempo salva e condena. Logo no início, o roteiro, assinado pelo próprio diretor em parceria com Jung Byeong-Sik, coloca o protagonista em uma situação de caos, despertando desorientado em uma sauna tumultuada. Jung revelou que buscou inspiração em “Nikita: Criada Para Matar” (1990), do francês Luc Besson, e em “A Vilã” (2017), com o qual “Carter” guarda semelhanças significativas.

No entanto, este filme contemporâneo vai além da violência gratuita ao atribuir ao anti-herói, interpretado por Joo Won, um perfil inesperadamente alinhado com valores atuais, exigindo que ele se adapte à nova realidade enquanto tenta proteger um garoto perdido, lembrando-o de sua própria vida pregressa de casa, família e história. Gradualmente, a trama introduz sua filha, a quem ele deseja reencontrar antes que o pior aconteça.

A memória pode ser traiçoeira, mas as artimanhas que o ser humano emprega para enganar o tempo são ainda mais preocupantes. O diretor ilustra bem esse dilema através de Carter, cujo verdadeiro nome é Michael Bane, um agente secreto dividido entre a CIA e o NIS, a agência de inteligência da Coreia do Sul. Ele é forçado a depender de um dispositivo móvel que não apenas o localiza no mundo, mas também em sua própria existência.

Jung informa ao público que Carter deve obedecer ao aparelho devido à ameaça de uma bomba instalada em um de seus dentes, intensificando ainda mais seu sofrimento. As cenas de perseguição, filmadas com enquadramentos circulares, reforçam a sensação de desajuste social, culminando em violentos confrontos com antagonistas pouco memoráveis. Aqui, a narrativa de um homem lutando contra seu destino prevalece, e até mesmo o possível romance com Agnes, interpretada por Camilla Belle, parece despropositado até que ele recupere sua vida.

Embora a computação gráfica excessiva diminua a emoção de “Carter” em alguns momentos, o talento de Woo sustenta o interesse do público com facilidade. Fica evidente a dependência do toque pessoal do ator para trazer organicidade a uma narrativa marcada pela frieza, pelo esteticismo exagerado e pela sofisticação técnica quase imprudente. A impressão final é de que Jung procurou uma abordagem radicalmente distinta para abordar o cansativo conflito geopolítico entre as Coreias e os Estados Unidos.


Filme: Carter
Direção: Jung Byung-Gil
Ano: 2022
Gênero: Ação/Suspense
Nota: 8/10