Considerada uma das melhores atuações de Johnny Depp no cinema, filme subestimado que deveria ter concorrido ao Oscar está na Netflix Divulgação / Saban Films

Considerada uma das melhores atuações de Johnny Depp no cinema, filme subestimado que deveria ter concorrido ao Oscar está na Netflix

Los Angeles é uma cidade singular. Em que outro lugar do mundo policiais e criminosos compartilham os mesmos espaços, frequentam os mesmos círculos sociais e partilham segredos obscuros, enquanto crimes brutais permanecem sem solução e inexplicados para sempre? Esse cenário é o pano de fundo de “City of Lies”, que aborda essa realidade com alguma determinação.

O assassinato do rapper Christopher George Latore Wallace, conhecido como The Notorious B.I.G. (1972-1997), em 21 de maio de 1997, apenas onze meses após a morte igualmente trágica e precoce de Tupac Shakur (1971-1996), em 16 de setembro de 1996, destaca o caos e a corrupção na Cidade dos Anjos — ou das mentiras, como sugere o título do filme —, refletindo uma ferida ainda aberta nos Estados Unidos, décadas depois.

Brad Furman dirige esta narrativa centrada em um detetive movido por uma urgência quase autodestrutiva de capturar o(s) assassino(s), não para ganhar notoriedade na mídia, mas por um senso de dever com a justiça. Infelizmente, Russell Wayne Poole (1956-2015) não viveu para ver o desfecho dessa história, mas sua dedicação lhe confere um status de mártir.

A obsessão de Poole não surgiu do nada. Desde o início, o roteiro de Christian Contreras e Randall Sullivan apresenta Voletta Wallace, mãe de B.I.G., em um depoimento contido, exigindo a prisão do responsável pela morte de seu filho, que, apesar de sua imponente presença física, era visto por ela como um menino indefeso.

No vigésimo aniversário do crime, Jack Jackson revisita reportagens e entrevistas com membros do LAPD, até encontrar Poole, que nunca conseguiu descansar devido ao mistério que cercava o caso.

A interação entre Johnny Depp e Forest Whitaker resulta em momentos memoráveis, especialmente quando a tensão racial e policial é explorada, como no confronto entre Frank Lyga e Kevin Gaines, dois agentes do LAPD interpretados por Shea Whigham e Amin Joseph. Esse embate violento, sem rodeios, contrasta com o duelo intelectual entre Poole e Jackson.

O filme perde um pouco ao focar excessivamente no lado cerebral da dupla Depp-Whitaker, em detrimento de cenas de ação mais cruas como a protagonizada por Whigham e Joseph. Ainda assim, “City of Lies”, na Netflix, oferece 112 minutos de entretenimento sólido, especialmente para aqueles que não se incomodam com pequenos erros de continuidade. Uma crítica menor, reconheço, mas relevante para os mais atentos.


Filme: City of Lies
Direção: Brad Furman
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Crime/Thriller/Policial 
Nota: 8/10