Park Hoon-jung é um diretor que explora a essência humana por meio de uma violência explícita. Para alguns, essa violência é exagerada; para outros, é um meio necessário para seus personagens se encontrarem, uma dança feroz onde a morte tira a vida para um confronto íntimo com a honra.
O caos é uma constante em seus filmes, como em “Eu Vi o Diabo” (2010), onde um policial, após ter sua noiva assassinada, captura o criminoso, o espanca e o solta repetidamente, buscando uma razão para não sucumbir ao desespero. Em “Novo Mundo” (2013), Park introduz a máfia, uma escolha que expande suas possibilidades de explorar questões humanas atemporais. Em “Noite no Paraíso”, esse tema é revisitado com uma abordagem que reafirma a habilidade de Park em lidar com o submundo criminoso.
“Noite no Paraíso” apresenta mais uma batalha entre gângsteres, desta vez disputando o controle do tráfico de armas na Coreia do Sul. Se “Novo Mundo” tem a sofisticação de uma ópera, “Noite no Paraíso” é puro heavy metal, onde bandidos se enfrentam e se eliminam sem cerimônia, fazendo o espectador questionar o propósito de tanta violência. O ritmo frenético de Park contrasta fortemente com a serenidade de filmes como “Longa Jornada Noite Adentro” (2018), do chinês Bi Gan, ou “Hana-Bi – Fogos de Artifício” (1997), do japonês Takeshi Kitano. Para Park, a dor é sempre estridente.
A simplicidade é uma conquista. “Noite no Paraíso” busca entender como um gângster inteligente, mas inexperiente, enfrentará adversários de uma facção que domina o submundo. Uhm Tae-goo assume essa missão com perfeição, trazendo à vida um personagem que mescla arrogância e ganância com uma pureza que cativa o público. Park Tae-goo, seu personagem, encontra paralelo em figuras como Ferry, da produção belga de 2021, ou Léon, de “O Profissional” (1994), de Luc Besson.
O único obstáculo na ascensão de Park Tae-goo é sua preocupação com os outros. Sua meia-irmã doente e sua sobrinha, que derrete o gelo de seu espírito, são vítimas de uma emboscada que ele prefere acreditar ser acidental, embora saiba que foram mortas por sua causa. Yang Do-soo, vivido por Park Ho-san, o convence de que Doh, líder da organização Bukseong, é o responsável. Em busca de vingança, Park Tae-goo é enviado a Vladivostok, mas faz uma escala na ilha de Jeju, onde se hospeda com Kuto, um contrabandista de armas, e sua sobrinha Kim Jae-yeon, que também está à beira da morte devido a um câncer.
O roteiro ganha profundidade ao explorar o anti-romance entre Park Tae-goo e Kim, proporcionando um alívio necessário frente à violência do filme. A subtrama entre os personagens, apesar de linear, revela suas misérias e problemas autoinfligidos. Focados em suas próprias dores, Uhm Tae-goo e Jeon Yeo-been não percebem as oportunidades de felicidade que surgem.
A relação platônica dos protagonistas, uma abordagem rara num cinema saturado de sexo desnecessário, é uma das chaves para entender “Noite no Paraíso”. Quando enfrenta o dilema de salvar uma mulher condenada, com quem nunca teve um relacionamento físico, Park Tae-goo levanta a questão mais lírica do filme: é melhor morrer do que matar. Com personagens dignos e uma narrativa repleta de sangue, Park Hoon-jung cria um cinema único e intenso, desafiando as convenções.
Filme: Noite no Paraíso
Direção: Park Hoon-jung
Ano: 2020
Gênero: Drama
Nota: 9/10