A natureza, impiedosa em sua exuberância, nos incita à reflexão sobre a nossa própria existência e responsabilidade. Em “O Troll da Montanha”, Roar Uthaug mergulha nesse turbilhão de questionamentos, guiando-nos através de um roteiro que oscila entre a aventura desenfreada e a crítica social sutil. Neste filme, somos apresentados a Nora Tideman, uma paleobióloga cuja busca por respostas a mergulha em um mar de descobertas e desafios. Interpretada com maestria por Ine Marie Wilman, Nora personifica a luta incessante pela verdade, mesmo quando esta se esconde nas entranhas das montanhas mais remotas.
A história, inicialmente centrada em torno de uma descoberta paleontológica intrigante, rapidamente se transforma em uma jornada épica quando um ser ancestral e colossal emerge das entranhas da Terra. O troll, criatura mitológica dotada de uma presença imponente e uma alma atormentada, torna-se o catalisador de uma narrativa que transcende os limites do mero entretenimento.
Por meio do relacionamento complexo entre Nora e seu pai, Tobias, interpretado por Gard B. Eidsvold, somos confrontados com as nuances da condição humana. Tobias, com sua personalidade excêntrica e suas feridas profundas, representa a fragilidade da alma humana diante da vastidão da natureza. Sua jornada ao lado de Nora revela camadas ocultas de entendimento e compaixão, reforçando a ideia de que, muitas vezes, é nos abismos mais profundos que encontramos a verdadeira luz.
Uthaug, com sua direção habilidosa, equilibra magistralmente a tensão entre o suspense arrebatador e a mensagem subjacente de respeito e harmonia com o mundo natural. A medida que a trama se desenrola, somos levados a refletir sobre nossa própria relação com o planeta que habitamos, questionando nossos valores e nossas escolhas.
Em “O Troll da Montanha”, somos convidados a encarar de frente os desafios que a natureza nos apresenta, reconhecendo que, mesmo diante da adversidade, há sempre espaço para a redenção e a compaixão.
Apesar de nossos demônios interiores e das monstruosidades que habitam nosso mundo, ainda podemos encontrar a luz da esperança e da redenção. O filme de Uthaug transcende o gênero de suspense e aventura, transformando-se em uma reflexão sobre a relação entre a humanidade e a natureza, e sobre os dilemas éticos que enfrentamos em nossa busca por conhecimento e poder.
Nora e Tobias representam polaridades complementares, cada um lutando com seus próprios demônios internos enquanto enfrentam a ameaça externa do troll. À medida que a história se desenrola, eles descobrem que a verdadeira batalha não é apenas contra uma criatura lendária, mas contra seus próprios medos, arrependimentos e desejos.
O troll, por sua vez, emerge como um símbolo ambíguo da natureza selvagem e indomável, uma força primal que não pode ser contida pelas convenções humanas. Sua presença imponente e sua interação surpreendente com os protagonistas questionam nossas noções preconcebidas de bem e mal, certo e errado.
“O Troll da Montanha”, na Netflix, nos convida a refletir sobre o nosso lugar no mundo e a nossa responsabilidade para com o meio ambiente e as criaturas que o habitam. É um lembrete oportuno de que, mesmo diante de desafios aparentemente insuperáveis, ainda podemos encontrar coragem e compaixão para construir um futuro melhor.
Filme: O Troll da Montanha
Direção: Roar Uthaug
Ano: 2022
Gêneros: Terror/Ação/Suspense
Nota: 8/10