Proibido para menores: thriller erótico que acaba de chegar na Netflix vai te fazer cancelar os planos e ficar em casa Divulgação / Netflix

Proibido para menores: thriller erótico que acaba de chegar na Netflix vai te fazer cancelar os planos e ficar em casa

Goste-se ou não, Tyler Perry vem fazendo uma carreira notável em Hollywood. É verdade que o homem que encarna sucessos como os dos filmes da série “Madea” é curiosamente mais conhecido por trabalhos como “Não Olhe para Cima” (2021), a comédia escatológica de cirúrgico pessimismo dirigida por Adam McKay, quando aparece de cara limpa, mas Perry, sem dúvida um dos talentos mais diversos que o cinema tem hoje, não vai muito além do previsível em “Mea Culpa”, thriller jurídico-erótico na Netflix, onde também há espaço para um drama de família que degringola numa solução fácil demais para um enredo tão abotoado.

O diretor-roteirista é ambicioso o bastante para entrar em muitos temas complexos de uma vez, sem, no entanto, ser capaz de esgotá-los, apenas os sobrepõe atabalhoadamente, pensando que a violência da cartada final o redime desses equívocos. O trocadilho sem graça que dá nome a seu novo trabalho é apenas um dos aspectos mais visíveis da sucessão de equívocos que se apresentam aqui, desculpáveis em alguma proporção em se comparando com o desenvoltura do elenco.

Casamentos podem ser a oportunidade ideal para que se unam não duas pessoas que trocam juras de amor eterno que não resistem à pálida luz da alvorada, mas paranoias de vidas fraturadas em alguma curva imprecisa do caminho, e, por uma razão compartilhada só pelos dois, são justamente essas suas debilidades que fazem com que o erro imperdoável da união transforme-se num vínculo que dura indefinidamente, quiçá para além da vida, e que desconcerta pela lealdade com que os cônjuges enxergam-se um ao outro.

Quando compreendem, não raro à custa de muitas batalhas contra a intransigência dos titânicos moinhos de vento a rondar sua vida em comum, que estão juntos para descobrir o que, afinal, os impele a seguir tentando manter sua história, sufocando fantasias pueris sobre amor eterno e tórridos folguedos de alcova que não convém ao avanço do tempo — ou esses dois elementos que, queiram ou não, viram um único ente às vistas da sociedade —, os cônjuges têm uma possibilidade exponencialmente maior de serem felizes, ainda que essa bonança nunca se vá completar e pareça sempre necessitada de um reforço. 

Perry fala de uma união que se arrasta, mas antes que ganhe o tiro de misericórdia, vive o bastante para experimentar todo o gênero de ultraje. No consultório de uma psicanalista, Mea Harper, mencionada colateralmente no título, está absorta pelo horizonte da cidade lá fora, quando deveria estar envolvida com que se discute, os problemas recorrentes de sua convivência com Kal, cuja ocupação resta uma verdadeira incógnita até o fim das duas horas de projeção.

Decerto, a advogada a que Kelly Rowland dá vida, se perde diante das luzes buscando um jeito de quitar as inúmeras dívidas do casal — ideia que sustenta a reviravolta na transição do primeiro para o segundo ato —, mas o que é ruim costuma piorar, e então Azalia, a mãe de Kal liga, cobrando a presença dos dois em seu jantar de aniversário. Essa sequência, na qual a família da antimocinha de Rowland se reúne como se todos se amassem, explica muito do que acontece depois, quando Mea decide representar Zyair Malloy, um artista plástico acusado pelo homicídio da namorada semanas antes.

Ainda que a afinidade de Rowland e Trevante Rhodes salte aos olhos, isso não é o suficiente para que ignorem-se pontas soltas nunca desbastadas, como o fato de Azalia, de Kerry O’Malley, ser mãe de dois filhos negros — além de Kal, vivido por Sean Sagar, também aparece nesse núcleo o irmão mais velho, de Nick Sagar; ela pode ser a mãe biológica dos dois, uma vez que o pai nunca é mencionado. A propósito, na iminência do desfecho, uma sequência macabra liderada pelo personagem de O’Malley sacode a pasmaceira de “Mea Culpa”, mas é tarde. A essa altura, todo mundo já sabia muito bem para onde o filme iria (e foi mesmo).


Filme: Mea Culpa
Direção: Tyler Perry
Ano: 2024
Gêneros: Drama/Thriller/Suspense/Erótico
Nota: 7/10