Novo filme da Netflix é um balé de violência para viciados em ação e vai fazer você perder o fôlego Divulgação / Netflix

Novo filme da Netflix é um balé de violência para viciados em ação e vai fazer você perder o fôlego

A despeito de tudo quanto possamos fazer, o tempo é um inimigo que ninguém vence. Essa sensação de inércia diante de um rival que nos oprime com especial crueldade fica pior quando não conseguimos definir o que de fato importa na vida e em que momento iremos parar o que quer que estejamos a fazer e passaremos a nos dedicar apenas ao que é nosso.

Esse é o argumento central de “60 Minutos”, a gincana cheia de muitos obstáculos e raras prendas onde o alemão Oliver Kienle recicla um chavão de barbas brancas de modo a fazê-lo o filme nitidamente inventivo que é. Essa urgência de superar os sessenta minutos do título (e até mais) aparece em clássicos do cinema moderno a exemplo de “Fuga de Nova York” (1981), de John Carpenter, ou “Contra o Tempo” (2011), de Duncan Jones — para não falar no hoje manjadíssimo “De Volta para o Futuro” (1985), a então assombrosa reflexão de Robert Zemeckis sobre a inutilidade e a estupidez de se desejar viver tempos a que não pertencemos, ainda um excelente filme —, mas Kienle bate forte na tentação de replicar sem critério a fórmula cansada, ainda que exitosa, de apresentar um personagem tomado por uma grande angústia que decide romper as correntes que pusera em si próprio e tem de dispor da generosidade do relógio para dar conta da tarefa que vai enfim libertá-lo.

Octavio Bergmann, uma promessa do MMA, está prestes a mais uma vez subir no octógono, para o confronto que pode resolver os problemas financeiros da academia onde treina. A luta em que vai se bater com Roberto Benko na Arena NYX, em Berlim, já angariou uma fortuna em apostas, e desde o primeiro instante ele sabia que não poderia refugar.

Assim mesmo, Octa diz com as todas as letras a Mina, a ex-mulher vivida por Livia Matthes, que vai comparecer à festa pelo sétimo aniversário de Leonie, a filha deles, levando o bolo mais saboroso que jamais comera e Cebola, a gatinha vira-lata que a menina escolhera num abrigo de animais sem dono em Neukölln. Octa tem dado a Leo as mesmas falsas esperanças por anos, mas Mina não está mais disposta a tolerar nenhum deslize, e aí começa o martírio do lutador, que trava uma batalha inglória e se desdobra em mil para dar não falhar com ninguém, nem com os patrocinadores, nem com os quem já investiu um rio de euros e tanto menos com a filha, que além de ser a pessoa que mais ama no mundo, é a única a não ter culpa de nada.

Ao sentir que o cerco se fecha, recebendo ligações de Mina por Bluetooth e mensagens de seus parceiros comerciais pelo smartwatch — estética que acaba deixando a narrativa meio pesada —, ele joga tudo para o alto e se lança à odisseia suicida de chegar à casa da mãe de Leo a tempo do parabéns.

Os dois terços restantes se alternam entre ótimas cenas de pancadaria, nas quais Octa, claro, sempre sai por cima, e os planos mirabolantes que elabora no calor do momento a fim de se livrar de seus ex-aliados e agora verdugos convictos, que não perdoam o atrevimento do protagonista. Kienle e o corroteirista Philip Koch guardam uma explicação bastante plausível para a ira dos organizadores da luta, que até poderiam justificar a conduta antiprofissional do personagem de Emilio Sakraya, talvez um Jean-Claude Van Damme mais talentoso. A propósito de comparações, a sequência na boate é puro “John Wick”, mas quem se importa? Ao soar o gongo, “60 Minutos” vence por seus próprios sangue, suor e lágrimas. Nessa ordem.


Filme: 60 Minutos
Direção: Oliver Kienle
Ano: 2024
Gênero: Ação/Aventura/Drama
Nota: 9/10