Um dos épicos mais belos e emocionantes da história do cinema, com Brad Pitt, está na Netflix Divulgação / Summit Entertainment

Um dos épicos mais belos e emocionantes da história do cinema, com Brad Pitt, está na Netflix

Poucos filmes na história do cinema conseguiram entrelaçar tramas pessoais a objetivos didáticos de maneira poética. Jean-Jacques Annaud vai além do convencional, oferecendo em “Sete Anos no Tibet” uma narrativa que escapa dos clichês ao retratar a vida em todos os seus movimentos furiosos. O roteiro de Becky Johnston utiliza elementos da autobiografia de Heinrich Harrer para estruturar a história em três partes desiguais, conferindo importância adequada a cada uma delas.

Harrer, inicialmente apresentado como um playboy inconsequente, abandona sua esposa grávida para realizar o delírio de escalar o Nanga Parbat, mas o filme foge de idealizações hagiográficas, mostrando-o como uma figura complexa. A narrativa prossegue com seu relacionamento com Peter Aufschnaiter e, eventualmente, sua conexão com o Dalai Lama do Tibete, abrindo a perspectiva do conflito com a China.

O enredo explora como a essência da vida está intrinsecamente ligada ao esforço de viver, misturado ao prazer de existir neste mundo. Cada pessoa elabora e pratica sua própria aventura de acordo com suas preferências. Em termos simples, a vida pode ser definida como uma sequência de especulações, sem controle e contrária a métodos, sobre os desejos humanos e a aversão a desejá-los. A vida é uma representação viva dos altos e baixos, avanços e retrocessos, simbolizando o movimento contínuo.

Buscamos sonhos aparentemente inalcançáveis não apenas pela vontade de ir contra a corrente e destacar nossa singularidade, mas também porque sabemos que as chances de alcançá-los são mínimas. Desafiando a lógica, o racional muitas vezes não é suficientemente instigante, não nos encanta e não consegue penetrar em mentes inundadas por pensamentos passionais e absurdos. A natureza humana, ao manifestar uma vontade, já lança a semente da destruição. Portanto, a inferência é clara: devemos repudiar desejos e vontades, especialmente aqueles revestidos de grandiosidade fantasiosa que nos iludem com promessas vãs de felicidade. Devemos sonhar o sonho possível da felicidade terrena, uma miragem que se distancia mais à medida que a julgamos ao alcance dos dedos.

Com frequência, precisamos renunciar às conveniências da vida pós-moderna para nos reconectar com a essência mais trivial de cada um. Assumimos essa tarefa com sacrifício e, por vezes, dor, pois os dispositivos modernos, que nos mantêm cativos em casa, tornam-se extensões de nossos corpos sedentários. Enquanto essas urgências forem atendidas, nenhum receio se manifesta, apesar de o espírito, junto com o corpo, sofrer e rebelar-se.

No entanto, há momentos em que é preciso assumir o controle, arvorar-se como dono do próprio arbítrio e corajosamente seguir por outro caminho. Essa jornada para dentro da própria natureza, onde se ouve o rugido das feras internas, pode ser inicialmente atordoante, mas, realizada com boa vontade e como uma profissão de fé em si mesmo, transforma o mundo exterior em um novo paraíso.


Filme: Sete Anos no Tibet
Direção: Jean-Jacques Annaud
Ano: 1997
Gêneros: Drama/Aventura/Ação/Biografia
Nota: 9/10