Qualquer um sente uma nostalgia entre incômoda e quase poética dos anos em que não era dono da própria vida. Quando não se tem preocupações sobre como pagar as contas, ou não se precisa fazer nenhum empréstimo no banco para garantir a reforma da casa, ou, ainda, o salário está sempre um nível acima do preço das mercadorias no supermercado, sobra tempo para se pensar em assuntos bem mais urgentes, como por que a razão do nosso afeto leva dias para responder a nossas mensagens, interferindo no curso ordinário de toda a existência, um desastroso efeito borboleta que arrasta notas para o vermelho e atrai castigos um tanto draconianos.
Na rom-com adolescente “Lola”, a personagem-título do filme da francesa Lisa Azuelos começa a notar que viver é mais que satisfazer suas próprias necessidades no momento em que torna-se humana para seu mundinho cor-de-rosa ideal, e sofre as consequências de suas más escolhas. O texto de Azuelos, Kamir Aïnouz (não confundir com o diretor de “Madame Satã” [2002] e “Praia do Futuro” [2014] e Nans Delgado) descreve o temperamento meio leviano da protagonista e as mudanças pelas quais o destino a obriga a passar, uma travessia repleta de perigos.
Lola não dorme, literalmente. As noites para ela existem ou para sair com os amigos, ou para conversas intermináveis por SMS ou pelo pré-histórico Facebook, até que um dos dois lados, afinal, rendia-se a Morfeu. Na manhã seguinte, já um sem fim de coisas a serem deliberadas no pátio do colégio Wrigley em Chicago, onde cursa o ensino médio. Primeiro, ela se encontra com Janice e Ashley, e então, depois de uma espécie de reunião de cúpula, permitem a aproximação dos membros-satélites. Miley Cyrus, Ashley Greene e Lina Esco, nessa ordem, dominam boa parte dos 97 minutos, distribuídos em situações episódicas sobre a programação das férias passadas, o que cada uma irá fazer no próximo recesso e, claro, rapazes.
É aí que entra Chad, o namoradinho da vez de Lola interpretado por George Finn, a quem jura amor eterno e na sequência já é forçada a rever seus planos, ao saber que ele dormiu com outra moça, sem nenhuma intenção além de, vocês sabem. Lola, por seu turno, contra-ataca, diz que também ficou com um conhecido pelas mesmas razões, esperando que os dois superem o “mal-entendido”. Contudo, instala-se um constrangimento tão avassalador entre os dois que tudo quanto Lola consegue fazer é voar para o banheiro masculino e riscar o coração desenhado a pincel atômico com o nome dos agora ex-pombinhos no centro. Essa é a deixa para que Kyle se apresente.
Douglas Booth é, de longe, a única coisa pela qual vale a pena se importar em “Lola”. O carisma de Booth, aliado a um nítido conforto na pele de seu personagem, dão alguma graça a sequências insultuosamente previsíveis, como o envolvimento de Anne, a mãe de Lola vivida por Demi Moore, com James, o investigador da divisão de narcóticos encarnado por Jay Hernandez, chamado à cena porque a garota, tudo leva a crer, estaria indo longe demais em suas experiências com aditivos. Num só golpe, Kyle arrasta a amiga e futura namorada para o bom caminho e fecha a história com um concerto de rock bastante digno, talvez o ensaio para que Booth incorporasse Nikki Sixx, o baixista e principal compositor do Mötley Crüe, no docudrama de Jeff Tremaine lançado em 2019. De resto, nem mesmo ele salva a montanha de clichês bobinhos, elencados com método.
Filme: Lola
Direção: Lisa Azuelos
Ano: 2012
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 7/10