Filme que acaba de chegar na Netflix vai te ajudar a esquecer dos problemas e relaxar a mente Divulgação / La Soga Producciones

Filme que acaba de chegar na Netflix vai te ajudar a esquecer dos problemas e relaxar a mente

A despeito de idade, etnia, cultura, sangue, todos nos deparamos, cedo ou tarde, com o momento em que questionamentos antes solenemente ignorados não se conformam mais em permanecer no limbo da memória e nas sombras do coração, aflorando ao menor sinal de turbulência, iniciada por aquela e acolhida por este. Jovens senhoras de meia-idade travam batalhas inglórias e mesmo trágicas contra o tempo, ainda que saibam que não é o senhor da vida da morte o responsável por sua volubilidade, sua aflição, seu desespero, sua revolta contra o mundo e contra a ideia que faziam a seu próprio respeito até ontem.

Ainda muito jovem para ter vivido na pele as idas e vindas de relacionamentos amorosos que fracassam, e pior, arrastam-se pelos dias que viram noites e que tornam ao dia, a peruana Ani Alva Helfer investiga em “Solteira, Casada, Viúva, Divorciada” a natureza dos afetos nas relações amorosas e se pode haver algum modelo a ser seguido a fim de que se conservar a salvo dos quase certos desenganos. Talvez Helfer não chegue a nenhuma conclusão que todos já não conheçamos, por sofrer na carne ou por dar alguém o ombro, mas seu filme continua uma boa mostra do quão tristes podem se tornar os amores e seus descaminhos.

Mulheres sobre saltos altíssimos parecem donas das próprias vidas e das próprios sentimentos, mas basta que o filme avance um pouco para que Constanza, Lorena, Daniela e Cecilia logo revelem-se quatro locomotivas sem freio, cada qual seguindo numa direção e prestes a colidir umas contra as outras. Helfer e a irmã, Sandra Alva Helfer, dão um mergulho na alma de Conny, Lore, Dani e Cecilia, sem apelido, e não é necessário muito para constatar que estão infelizes, frustradas, no progressivo amargor que não tarda a envenenar até o espírito mais resiliente.

Se Lore é uma executiva aparentemente pacificada com sua condição de solteirona bem-sucedida — e com o caso sem nenhuma perspectiva de futuro com Alejandro, o cafajeste limpinho de Rodrigo Sánchez Patiño —, Conny, uma atriz em franca decadência, não se dá por vencida e quer estar sempre por cima, mas só consegue estrelar uma campanha de fixador para dentadura. Milene Vásquez e Katia Condos respondem por boa parte das passagens cômicas de “Solteira, Casada, Viúva, Divorciada”, restando a Dani, interpretada por Patricia Portocarrero, e Cecilia, sobretudo Cecilia, encarnar os momentos em que a melancolia do quarteto explode nas cores ora solares, ora contidas de Pacasmayo, um balneário ao norte do Peru onde elas passavam as férias na adolescência.

A diretora reserva para a personagem de Gianella Neyra, a viúva do grupo, o trauma que faz com que seu filme evolua para um melodrama equilibrado, que não rompe a superfície da tragédia, mas emociona. Uma morte, contudo, dá o tom da história no desfecho, involuntariamente, na vida real: este é o último trabalho de Diego Bertie (1967-2022), um dos galãs por excelência do audiovisual peruano, aqui como Leonardo, o ex-marido repaginado de Conny, com quem acaba tendo um pequeno revival.


Filme: Solteira, Casada, Viúva, Divorciada
Direção: Ani Alva Helfer
Ano: 2023
Gêneros: Comédia
Nota: 8/10