Se o capitalismo tem a capacidade de transformar tudo em dinheiro, a indústria cultural frequentemente adota histórias sobre a geração de riqueza e as maneiras mais sombrias de obtê-la como matéria-prima para canções, programas de televisão, livros e filmes. Dentre essas formas de expressão, filmes são frequentemente os mais impactantes.
David Yates, diretor amplamente reconhecido por seus trabalhos na franquia “Harry Potter” e “Animais Fantásticos”, traz-nos “Máfia da Dor“, um drama que retrata a indústria farmacêutica e a comercialização de analgésicos para tratamentos oncológicos. Baseado no sucesso literário de Evan Hughes, o filme é uma crítica mordaz ao sistema farmacêutico, abordando um escândalo real de suborno a médicos que, por sua vez, prescreviam medicamentos desnecessários a pacientes, levando-os a vícios.
No epicentro da trama temos Liza Drake, interpretada magistralmente por Emily Blunt. Liza é uma mãe divorciada, morando de favor na garagem de sua irmã, e recorre ao trabalho como stripper para sustentar sua filha que sofre de uma condição neurológica. Seu caminho cruza com Pete Brenner, vivido por Chris Evans, um vendedor de medicamentos que vê nela um potencial inexplorado e lhe promete um salário substancial em troca de suas habilidades de venda.
O filme nos leva através da jornada de Liza, desde seus humilhantes primeiros passos na indústria farmacêutica até seu ápice, quando uma única oportunidade a projeta para o centro das atenções da empresa. Acompanhada de personagens intrigantes como o dono da empresa, doutor Neel (Andy Garcia), e outros colegas, Liza mergulha profundamente nas complexidades e corrupções da indústria.
Flórida, 2011. Num flashback, Liza reaviva sua trajetória, de seus desafios iniciais à sua ascensão, e eventual queda. A Zanna, representada por Brenner, lança o Lonafen, um medicamento que ilude as regulamentações da FDA, levando a uma crise de vício em massa. O filme detalha a ascensão meteórica e subsequente queda tanto da empresa quanto de seus principais players.
Um elemento que sobressai é a atuação de Blunt. Seu desempenho, caracterizado por nuances que refletem a trajetória tumultuada de sua personagem, é, sem dúvida, um dos pontos altos do filme. O filme também se destaca por capturar a cultura e os jargões dos vendedores farmacêuticos, com Hughes, o autor original, servindo como consultor para garantir autenticidade.
“Máfia da Dor” é um olhar introspectivo sobre os excessos da indústria farmacêutica e um lembrete perturbador de como a busca insaciável por lucro pode ofuscar a ética e a moralidade. Termina com um tom que pode parecer otimista à primeira vista, mas que, sob um exame mais atento, revela as tristes realidades da indústria farmacêutica nos Estados Unidos.
Filme: Máfia da Dor
Direção: David Yates
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Crime
Nota: 9/10
