Entre lições e reflexões sobre a vida, filme na Netflix é um tesouro inestimável para a alma Divulgação / Sandollar Productions

Entre lições e reflexões sobre a vida, filme na Netflix é um tesouro inestimável para a alma

Em uma festa de formatura de uma universidade, um grupo de amigos discutem alcoolismo, a dívida do financiamento estudantil e o rumo de suas vidas. No começo de suas jornadas adultas e independentes, eles questionam seus destinos, divagam sobre seus medos e planejam o próximo passo entre uma e outra série de diálogos curtos que misturam o trivial, o intelectual e o non-sequitur.

“Tempo de Decisão”, escrito e dirigido pelo estreante à época Noah Baumhach, que teve ajuda no roteiro de Bo Berkman, acompanha a trajetória de Grover (Josh Hamilton), um jovem aspirante a escritor que acaba de terminar a faculdade. Sua namorada, Jane (Olivia d’Abo), o informa que está de partida para Praga. Ele, que está de mudança para Nova York, fica abalado pela notícia de que Jane não o acompanhará.

Enquanto isso, seu grupo de amigos formado por Otis (Carlos Jacott), Max (Chris Eigeman), Skippy (Jason Wiles) e Miami (Parker Posey), que não está interessado em arrumar empregos de verdade, teme que acabem como Chet (Eric Stoltz), um colega que já está na universidade há 10 anos. 

Embora pouco realmente aconteça, o filme acompanha a dinâmica do grupo em seus últimos dias no campus por meio de seus diálogos, sempre interessantes e perspicazes, misturando conversas comuns e cotidianas àquelas que jamais teríamos. Em meio a questões simples, Baumbach brinca com situações absurdas, como uma garota menor de idade na fila da balada que chama Grover de velho, porque ele já tem 22 anos e não precisa de identidade falsa. Ou quando o pai  desse mesmo personagem fala com ele sobre sua ereção.

As conversas mais fúteis ou banais sempre desembocam em observações profundas sobre a vida com conclusões deprimentes ou filosóficas demais. A beleza e astúcia de Baumbach está exatamente em transformar o popular em intelectual e vice-versa, coletando fragmentos de cultura popular e criando um mosaico rico de referências.

Entre brincadeiras e discussões à mesa, eles questionam seus hábitos, sua lealdade um com o outro e o que possuem em comum, mostrando que amizades adultas são mais complexas e não se tratam mais sobre simplesmente estarem juntos para se divertir ou ter companhia. É necessário ter motivações ou vantagens.

Flashbacks de Grover com Jane dão um toque de melancolia e romantismo, mostrando a idealização do amor. Um traço divertido da personalidade de Jane é como ela nunca sabe argumentar durante uma discussão. Ela pensa em suas respostas horas depois, trazendo de volta assuntos que já esfriaram, mas dando uma pitada de humor, inocência e doçura.

Grover, Skippy, Chet, Max e Otis são dramáticos, terminais, intensos. Tudo parece à beira da ruptura e do caos, mas a vida na maioria das vezes tem seus “depois” em que absolutamente nada acontece. Baumbach parece tentar expressar algumas de suas próprias angústias existenciais, já que ele era um jovem de 20 e poucos na mesma época. 

O começo dos 20 anos também é uma fase de muitas preocupações. Nos levamos à serio demais, queremos provar nossa competência, que estamos certos, que somos capazes de nos virar, ter responsabilidades. Com o tempo, essa necessidade de se provar a todo momento acaba. A seriedade em relação às muitas questões da vida deixam espaço para um pouco de erro, de procrastinação e de humor.

Sua comédia observacional sobre a juventude é um olhar ingênuo, emotivo e saudoso dos tempos em que as pessoas ainda têm tempo para ficar à deriva na vida para pensar e decidir suas vidas, mas acham que estão com uma dinamite com pavio aceso na mão.


Filme: Tempo de Decisão
Direção: Noah Baumbach
Ano: 1995
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 9/10