Você está preparado? O thriller inquietante e sedutor na Netflix que vai deixar seus olhos grudados na televisão Divulgação / Netflix

Você está preparado? O thriller inquietante e sedutor na Netflix que vai deixar seus olhos grudados na televisão

“Dívida Perigosa” é cozido no orientalismo descrito por Edward W. Said, uma teoria que explica como os orientais são vistos sob um prisma fascinantemente misterioso, exótico e sedutor, mas estereotipado, por ocidentais. O tal do nós e eles, que nos coloca em polos opostos da realidade e, muitas vezes, como adversários. Mas Jared Leto na pele de Nick Lowell se torna um deles depois que impede Kiyoshi (Tadanobu Asano), um membro da Yakuza, de morrer enforcado em uma cadeia no Japão.

É 1954 e Lowell é um ex-capitão do exército norte-americano que lutou na guerra e foi aprisionado pelos inimigos. Há mais de dez anos na cadeia, mas com uma aparência impecável, rosto sem barba e cabelos lustrosos, ele ganha sua liberdade e a confiança do ex-companheiro de prisão, que o infiltra na organização criminosa mais tradicional e centenária do Japão. Em Osaka, Lowell reconstrói sua vida como filho de Akihiro (Min Tanaka), líder do clã.

Enquanto tenta ganhar a confiança de seus companheiros de crime, que ainda o consideram um gaijin, um forasteiro, Lowell se apaixona por Miyu (Shioli Kutsuna), irmã de Kiyoshi, que corresponde ao sentimento, mas o romance é proibido. Não apenas porque os membros da Yakuza devem abandonar suas idealizações de família pelo seu clã, mas também porque Miyu é objeto de desejo de Orochi (Kippei Shîna), outro membro da organização com quem a bela já teve um relacionamento. Kiyoshi também faz Lowell prometer que irá se afastar de sua irmã, porque ela merece se casar com um homem comum, que não colocará sua vida em risco.

Logo os conflitos de Lowell na Yakuza se cruzam com os do seu próprio clã, porque uma família rival pretende transformar os becos de Osaka em um cenário de guerra. Afinal, o protagonista, nosso anti-herói, é um homem confiável? Ele é realmente leal a Kiyoshi? Qual sua história de vida e como ele se tornou esse homem solitário sem uma família para voltar? Algumas perguntas são respondidas, outras permanecem escorregadias e insolúveis até o final dessa trama noir.

Com uma atmosfera enigmática, máscula e elegante, “Dívida Perigosa” imita a estética e o ritmo de “O Poderoso Chefão”, clássico que acertou na receita dos filmes de gângster. Com cores frias e tons terrosos, a fotografia de Camilla Hjelm segue um estilo tradicional, mas assim como o filme de Coppola, usa iluminação baixa, que reforça o clima de suspense e mistério e cria máscaras de sombras nos rostos dos personagens no centro da cena para dar pistas ao espectador sobre suas emoções e posicionamentos.

Violento e brutal, o longa-metragem exige estômago do espectador. São muitas as sequências com facas, sangues e mortes com requintes de crueldade.

Antes de Leto ser escolhido para o papel principal, outros atores foram escalados ou considerados para viver Lowell, como Tom Hardy, Jeremy Renner e Michael Fassbender, mas houve problemas com as agendas. Além disso, outros diretores foram cotados, como Takashi Miike e Kinju Fukasaku.

Alvo de críticas duras na época de seu lançamento, o roteiro de Andrew Baldwin pode até ter alguns problemas substanciais, como pouca exatidão cultural (gravíssimo) ou personagens rasos, mas confesso que me senti envolvida por essa trama charmosa e perigosa na qual gostaria que tivesse se prolongado mais e dado mais informações sobre seus personagens centrais.


Filme: Dívida Perigosa
Direção: Martin Zandvliet
Ano: 2018
Gênero: Ação/Policial/Drama
Nota: 8/10