Drama belíssimo e comovente na Netflix vai transformar sua maneira de ver a vida Divulgação / Cuavano Films

Drama belíssimo e comovente na Netflix vai transformar sua maneira de ver a vida

“As Horas Contigo” é um drama geracional de Catalina Aguilar Mastretta, que quando lançou o filme tinha apenas 30 anos de idade. Acompanhamos neta, mãe e avó. Elas têm de conviver juntas durante alguns dias, porque a matriarca da família está em seu leito de morte. Passado, presente e futuro se cruzam, trazendo à tona conflitos, lembranças e expectativas.

A neta é Ema (Cassandra Ciangherotti), que passou a maior parte de sua infância sob os cuidados da avó, Abu (Isela Vega), já que sua mãe, Julieta (María Rojo), é uma cantora cuja carreira tomou a maior parte de seu tempo. Suas melhores lembranças são na casa de Abu, onde ela transita com naturalidade, fechando portas defeituosas com habilidade e se sentindo como se estivesse no próprio lar.

A avó está em estado crítico, mas a família se nega a levá-la no hospital, porque ela expressou, por muitos momentos de sua vida, que queria morrer em casa. Apesar das poucas falas de Isela Vega, sua personagem é muito bem delineada pelas lembranças de seus familiares e pelas expressões ranzinzas, e até cômicas, embora o momento fosse dramático, de Abu rejeitando a visita do padre durante a extrema unção e coisas do tipo.

Abu não parece ter sido nada politicamente correta durante a vida e suas opiniões, pelo que recordam, eram bastante peculiares e polêmicas. Por exemplo, “todo artista é meio maluco”, lembra a enfermeira da frase dita pela matriarca na frente de Julieta. Mas é seu jeito debochado, por vezes desagradável, que também lhe confere carisma e autenticidade.

Enquanto encara a morte iminente de sua avó, Ema também confronta uma gravidez inesperada. Então, fim e começo se encontram em um momento catártico da vida da protagonista. O enredo parece bem fácil de se sentir identificado. Porque todos passamos por algum momento em que a despedida de alguém que amamos se torna realidade. Esse desfazer da vida nos faz enfrentar sentimentos confusos e extremos, como a noção de nossa própria mortalidade.

Ema e Julieta vivem isso. Elas se dão conta de que o tempo é impiedoso e vai acabar com tudo que se move sobre a Terra. Mas a gravidez de Ema também a faz olhar para a maternidade com um olhar mais compreensivo e empático. Suas doses de verdade derramadas sobre a mãe revelam mágoas há muito tempo enterradas, mas também a faz pensar sobre  como é impossível acertar quando se é pai ou mãe. Não importa o quanto tentamos, sempre danificamos algo nos nossos filhos.

Neste longa-metragem de estreia sensível e pessoal, Catalina parece falar sobre si própria, mesmo que os eventos não tenham ocorrido realmente (não sabemos). Mas parece uma reflexão muito profunda e verdadeira sobre chegadas e partidas e sobre quem somos e nos tornamos nesse ínterim.

O filme ainda traz sentimentos de nostalgia, familiaridade, ternura e afeto. O enredo expõe dois dos contrastes mais belos da existência: o nascer e o morrer. Ambos sobrecarregados pelo medo, a euforia e a expectativa. Uma vida pode ser vista de várias maneiras conforme o olhar que a acompanha.


Filme: As Horas Contigo
Direção: Catalina Aguilar Mastretta
Ano: 2014
Gênero: Drama / Comédia
Nota: 9/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.