O filme que todas as pessoas deveriam assistir para elevar o espírito e recuperar a esperança Divulgação / Home Run Movie

O filme que todas as pessoas deveriam assistir para elevar o espírito e recuperar a esperança

Todos somos forçados a combater os monstros que habitam o mais fundo de nossa alma, alguns imensos e silenciosos, outros diminutos e vorazes, cada um lutando pelo quinhão que julgam merecer destruir, sempre com a nossa permissão, expressa ou velada. Cory Brand, o anti-herói de “Recuperando a Esperança”, sabe perfeitamente quais são e em que recônditas gretas se escondem seus fantasmas, o que deve fazer para exorcizá-los, que medidas tomar a fim de não mais ver-se submisso a eles; todavia, é preciso que haja um princípio de colapso para que anime-se a encampar alguma vontade de mudança — que, para sua grande sorte, é acompanhada de transformações ainda mais profundas. David Boyd desdobra o conflito que dá azo a seu filme de uma maneira ampla, ora fixando-se no protagonista, ora abrangendo também o rico universo que o circunda, o que resulta num perfil no mínimo estimulante para uma história repisada tantas e tantas vezes.

Uma casinha vermelha num campo florido serve de retrato bucólico de um país escondido, malgrado o que se veja na sequência não remeta a nenhuma ideia de serenidade. Depois de fazer a ronda à tal casinha, que na verdade é o celeiro de um pequeno sítio, a câmera de Boyd invade aquele espaço e mostra dois garotos que se entregam às brincadeiras próprias da primeira infância, até que o pai os obriga a deixar seu mundinho quase indevassável e manda que pratiquem lançamentos com uma bola de beisebol surrada. Esse treinamento forçado de um jogo estúpido acaba por moldar uma alma um tanto austera demais e na próxima cena, Cory, um rebatedor cuja carreira degringola na velocidade dos home runs que não consegue mais oferecer ao público, encharca o pensamento com a garrafinha de vodca que traz na bolsa, num vestiário lotado antes de mais uma partida. O astro dos Grizzlies, uma equipe da segunda divisão de Illinois, no Centro-Oeste americano, sente o cheiro de carne queimada e se empenha por livrar-se do alcoolismo e retomar a carreira com a dedicação necessária, mas para tanto um grande sacrifício o espera num ponto ao qual não queria voltar.

Scott Elrod responde a tudo quanto o filme exige de seu desempenho, especialmente depois que Cory, destaque de uma das melhores equipes da Divisão Central da National League, se convence de que sua rotina irá mesmo ficar bem diferente de como se habituara a viver. O deslocamento para a pequena cidade natal, onde precisa sujeitar-se a frequentar oito semanas de um grupo de ajuda comunitária para dependentes de substâncias e hábitos os mais obscuros e destrutivos — de alcoolismo, onde se encaixa, ao abuso do cigarro, passando por outros excessos referentes a metanfetamina e pornografia —, ganha contornos mais fluidos à medida que se reaproxima de figuras importantes de seu passado, como Emma, a ex-namorada vivida por Dorian Brown Pham, e Tyler, o filho dela, de Charles Henry Wyson, a quem se afeiçoa como se fosse mesmo seu pai. Reminiscências em que Cory surge em flashbacks rápidos enfrentando o pai dão a “Recuperando a Esperança” um andamento parecido ao que se tem em “A Árvore da Vida” (2011), quiçá o clássico dos clássicos nesse subgênero — embora o roteiro formulaico de Brian Brightly fique a dever muito às imagens mesmerizantes com que Terrence Malick regala o espectador.


Filme: Recuperando a Esperança
Direção: David Boyd
Ano: 2013
Gêneros: Esporte/Drama
Nota: 7/10