Arrebatador, comovente, bizarro, engraçado e único, filme na Netflix vai te deixar sem fôlego Divulgação / AZ Films

Arrebatador, comovente, bizarro, engraçado e único, filme na Netflix vai te deixar sem fôlego

Luis Gnecco é perseguido por Gael García Bernal em “Neruda” (2016). É uma perseguição cinematográfica e não histórica, naturalmente. O poeta senador e comunista tenta escapar em 1948 de seu personagem, o policial filho de dama de cabaré. O filme mostra as várias versões do chileno Nobel de Literatura. O ídolo popular, o devasso de muitas mulheres, o escritor que sofre ao compor seus poemas, o arrogante cobrado por seus camaradas de partido.

Tudo é ficção neste noir que representou o Chile no Oscar de 2017, sem ganhar. E como se assume como criação artística e literária, o filme se confina ao próprio cinema via transparência total, dentro das lições do distanciamento e desdramatização de Brecht, o instrumento teórico para enfrentar a alienação provocada pelas ilusões da dramaturgia.

Os diálogos são brutais e servem de exemplo para o cinema brasileiro que costuma cair na pieguice nas conversas de personagens históricos. Diálogos que não são atualizações anacrônicas, mas soluções encontradas na moldura do próprio filme. A rusga com a mulher pintora para discutir quem é o verdadeiro artista, os encontros com os militantes, os despossuídos do povo e os marginais da noite; as dúvidas sobre a fuga e seu lugar na literatura, e finalmente o encontro com seu perseguidor no meio da neve da cordilheira.

Uma perseguição que nos remete ao clássico “Rastros de Ódio”, de de John Ford, em que o Ethan/Gael, em busca do fugitivo, descobre sua identidade por meio do ressentimento e da tenacidade, quando deixa de ser uma sombra para assumir-se protagonista.

Um filme que é uma aventura da imaginação e foca o que o cinema é capaz de render para desvestir um ídolo sem roubar-lhe a natureza da sua vocação.


Filme: Neruda
Direção: Pablo Larraín
Ano: 2016
Gêneros: Drama/Ficção Histórica
Nota: 9/10