O filme quase perfeito da Netflix que todo mundo deveria assistir para acalmar a alma Divulgação / Netflix

O filme quase perfeito da Netflix que todo mundo deveria assistir para acalmar a alma

Aos vinte e poucos anos, pouca gente sabe realmente o que tá fazendo da própria vida. Talvez, nessa idade, você tenha trocado de curso superior umas duas vezes. Se você conseguiu se formar, é provável que ainda não esteja em um emprego tão bom assim. Agora, se você já está bem resolvido, parabéns, faz parte de um grupo seleto e privilegiado. Antes dos 30, o mais comum é você perambular um pouco perdido no mundo, na linha tênue entre a vida adulta e a infantil, tendo que encarar os próprios problemas com coragem, mas ainda ligando para os pais de vez em quando para saber como se faz uma declaração de imposto de renda.

Jessica James (Jessica Williams) é uma jovem nesse limbo da vida, na passagem para sua vida adulta e responsável, lutando para se estabelecer como dramaturga de sucesso e para ter um relacionamento estável, entre o pânico e o terror de ter de se virar sozinha. Mas Jessica é uma jovem extremamente sincera, decidida e apesar de dizer que é insegura sobre tudo, ela parece bastante confiante de si própria. Pelo menos, ela finge muito bem.

Nas primeiras cenas, Jessica aparece dançando pelos corredores, escadas até o terraço do prédio em que mora. Apesar da sua aparente confiança, ela não tem muita graciosidade. É uma protagonista desastrada, desajeitada e pouco carismática, mas tudo bem. Pessoas reais, na maioria das vezes, não são como um sol no qual o resto da galáxia gira em torno. Com 1,80 de altura, é difícil não perceber a presença marcante de Jessica, e apesar da figura altiva, ela luta para parecer orgulhosa o suficiente, enquanto coleciona em sua parede cartas de rejeição de companhias de teatro, tenta superar o recente término de um namoro de dois anos e meio e luta para convencer seus alunos pré-adolescentes de teatro em uma ONG que a arte pode transformar a vida deles.

A personalidade de Jessica, que chega como uma ventania pelos ambientes onde passa, assusta quase todo mundo, mas não Boone (Chris O’Dowd), um criador de aplicativo divorciado que ainda é obcecado pela ex-mulher. Ao contrário dos outros caras com quem Jessica saiu nos últimos meses, Boone não se ofende com a sinceridade dela e vê em sua atitude quase que arrogante seu verdadeiro charme. É com piadinhas infames, encontros desastrados e com uma habilidade sexual incrível que consegue permear a casca grossa de Jessica, que faz de tudo afastar qualquer possibilidade de relacionamento com outras pessoas que não seja seu ex, Damon (LaKeith Stanfield).

“A Incrível Jessica James”, dirigido e escrito por Jim Strouse, é uma comédia divertida, prazerosa e inteligente, que aborda não apenas os relacionamentos modernos, mas a adaptação do millenial na vida adulta, o amadurecimento, a busca pelo sucesso e independência e a superação de traumas do passado. Jessica Williams tem uma energia incrível e cativante, que não nos permite detestar a protagonista mesmo quando ela parece pedante. Ela transforma tudo, mesmo aquelas coisas que toda mulher gostaria de dizer e não diz, em comédia. Chris O’Dowd tem exatamente a atmosfera nerd boba de seu personagem, o que torna seu papel muito convincente. Por outro lado, o genial LaKeith Stanfield, um dos artistas mais relevantes desta nova geração de Hollywood, fica um pouco apagado, porque seu personagem é pequeno demais para sua grandeza. Ele é estranho, carismático, charmoso e tem o brilho nos olhos que nos transporta para a realidade de seu personagem. Seria muito melhor que ele tivesse um papel maior aqui nesta produção. Mesmo assim, “A Incrível Jessica James” é uma produção que vale o entretenimento e a reflexão.


Filme: A Incrível Jessica James
Direção: Jim Strouse
Ano: 2017
Gênero: Comédia
Nota: 9/10