Atordoante, filme na Netflix vai te deixar roendo as unhas e tão nervoso quanto o personagem principal Glen Wilson / Netflix

Atordoante, filme na Netflix vai te deixar roendo as unhas e tão nervoso quanto o personagem principal

É possível enxergar a verdade contando apenas com a palavra? Sim, os depoimentos, o testemunho sob juramento superam em credibilidade as imagens. A ação não é vista, mas revelada na investigação e nos tribunais. E no cinema? quando o quebra-cabeça do roteiro não é revelado, mas sugerido, enredando quem investiga na armadilha de versões em ritmo desesperador? Para complicar, quem precisa descobrir o que realmente acontece conta apenas com o telefone e está isolado num departamento policial digitalizado, pois está ali por punição, suspeito de ter cometido um crime e não pode repetir o erro, ser responsável pela morte de mais uma pessoa.

O noir, de 2021, “O Culpado” tem bases sólidas para dar certo: é praticamente uma refilmagem do dinamarquês “Culpa”, aclamado em 2018 no Sundance Festival e finalista ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A cópia garante a qualidade comprada do original. Bastou fazer algumas mudanças, mas a essência é a mesma: um policial (ex no original) interpretado por um dilacerado Jake Gyllenhaal, procura resolver um crime pelo telefone de emergência. Na versão americana, o 911, onde emerge o desespero de uma mulher que corre perigo.

Mas a linhagem é ainda mais antiga. Em “A Vida por um Fio”, de 1948 a situação é a mesma, só muda o foco: em vez de vermos o policial manobrando com o drama, vemos a vítima. É tudo cinema. A pessoa que recebe a ligação diante das câmaras é o espectador que imagina a ação sugerida pelos diálogos.  Como nós em frente à tela: queremos interferir no crime, evitar que aconteça. Mas não temos esse poder, que pertence ao cinema.

Então sofremos com esse policial que tenta ajudar alguém prestes a morrer, para lavar a culpa de ter matado alguém por abuso de autoridade.

É emocionante. Poderíamos também lembrar o clássico “Disque M para Matar”, de Alfred Hitchcock, 1954, em que o crime acontece por elipse, monitorado por um assassino pelo telefone, que fala de um lugar neutro para garantir o álibi.

Cinema sobre cinema: é disso que trata a Sétima Arte. Em “O Culpado”, a palavra assume integralmente seu papel de protagonista, não nos iludindo que a verdade seja apenas o que vemos, mas o que ouvimos e não podemos enxergar. Nesse caso, a palavra substitui a matrix da percepção definitiva e nos mostra o pesadelo do real num purgatório de culpa e desespero.


Filme: O Culpado
Direção: Antoine Fuqua
Ano: 2021
Gêneros: Crime/Suspense
Nota: 10/10