Grupo do zap

Grupo do zap

A mensagem diária de bom dia aparece acompanhada de uma imagem colorida: pode-se ver o mar e o horizonte, o sol surgindo. Um dos administradores cumprimenta a todos no grupo, mas sem imagem. É respondido por outro administrador, rico empresário.

Em seguida, o jovem, chamado pelos demais de Jornalista, surge com seus Informes do dia. Letras em negrito e carinhas e mãozinhas e coisas do tipo, chamam a atenção dos leitores idosos, ali maioria, e ilustram a longa mensagem.

Manchetes criadas pelo próprio Jornalista, seguidas de uma espécie de resumo da notícia, compõem os Informes que diariamente são compartilhados.

“Como sempre nos mantendo muito bem-informados.”

“Confio mais nas suas notícias do que nas dos grandes jornais.”

“Eu digo o mesmo.”

“Viram o último absurdo do lado de lá?”

“Sim, vamos compartilhar com todos os nossos contatos, postar no Instagram, Facebook, Twitter.”

“O grupo aqui é que é confiável.”

Dona Zulmira acorda. A primeira coisa que faz depois de abrir os olhos é alcançar o iPhone, que fica sempre do lado do travesseiro. Acessa no aparelho o aplicativo que mais usa. Vê as mensagens dos colegas. Levanta-se e vai até a cozinha.

“Ainda preparando o café, Neide?”

“Atrasei uns minutinhos, dona Zulmira.”

“Como sempre.”

“Foi o ônibus. Não tive culpa.”

“Fale menos e faça mais. Continue aí e prepare a mesa.”

Dona Zulmira vai até a sala. Olha seus quadros, suas esculturas, as fotos com a família. Lembra dos filhos e dos netos. Confere se a bandeira continua a tremular na varanda. Onde deixou o celular? Senta-se para fazer o desjejum. Celular ao lado, o dedo sempre passando as novas notificações.

Revê no arquivo de imagens enviadas a pesquisa eleitoral, que tem dados (números, porcentagens) diferentes da oficialmente divulgada pela mídia.

“Precisamos ter no poder um de nós.”

Terminada a refeição, veste a combinação de cores opostas, mas complementares. Sai para exercer sua cidadania.