A urna e as eleições

A urna e as eleições

Nascemos no mesmo ano. Não me lembro de, criança, ter ido com meus pais a um dia de votação que não fosse nela. O que sei sobre antes de sua existência são histórias de fraudes. Ficava enfileirado na companhia do papai ou da mamãe e quando eles entravam na sala para votar eu ia junto até a urna e algumas vezes lembro de ter digitado os números dos candidatos que diziam no meu ouvido. Era legal ver as fotos e os nomes aparecendo e no final o barulhinho característico da máquina. Mesmo hoje em países até mais desenvolvidos que aqui, quando aparece a população votando, é comum ver a fila de encasacados depositando o papelzinho na caixa.

Nas poucas coisas em que o Brasil se destaca e é exemplo para o mundo, a criação da urna eletrônica e de um sistema eleitoral seguro deve contar ponto. Na história recente, que político teria coragem de colocar em dúvida a credibilidade do mecanismo que o faz ser eleito? Um certo clima tenso começou a ser cultivado após as eleições de 2014, quando se pediu auditoria dos votos para presidente da República. De lá pra cá, ladeira bem abaixo: impeachment, governo impopular de Temer e chegada ao poder do que aí está.

Os ocupantes de cargos legislativos/executivos que aí estão, que agora pedem novamente votos, profissionalíssimos na coisa, acostumados ao bom salário e que alcançaram o pleito no papel, poderiam se espantar e duvidar: agora é uma máquina, ou várias delas juntas que dão o resultado. Essa reação, no começo, ou seja, em 96, 98, tudo bem, era então uma novidade. Mas hoje? Mais de 20 anos depois? (Um parêntese para dizer que este ano, segundo publicizado, um novo modelo de urna será utilizado. Os que não creem nem no modelo antigo vão surtar com essa nova?) A maioria deles não ousa questionar. Na internet, circula um inteligente meme: seja coerente, se seu candidato desacredita da urna, não faça uso dela.

Não acreditar na segurança do processo de votação está no combo de descrença dos que não acreditam em vacinas, dizem que não existe fome no Brasil, defendem que a Terra possui um formato impensável e, sobretudo duvidam do que é racional.