Embora o domingo seja oficialmente o primeiro dia da semana, é na segunda-feira que a conta chega e a vida real se manifesta. Boletos, preocupações, correrias e uma vontade latente que um novo final de semana chegue logo. Pensando nos nossos leitores, a Revista Bula preparou uma lista de filmes extraordinários para você começar a semana com o pé direito. Do drama ao suspense, do épico a animação, apenas produções aclamadas por crítica e público. Destaques para “Estranho Passageiro: Sputnik” (2020), de Egor Abramenko; “Meu Ano em Nova York” (2020), de Philippe Falardeau; e “A Viagem de Chihiro” (2001), de Hayao Miyazaki. Os títulos disponíveis na Netflix estão organizados de acordo com o ano de lançamento e não seguem critérios classificatórios.
Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix
Brincando em cima daquilo, falando de musicais e da mágica por trás deles, Lin-Manuel Miranda sugere ao público um jogo metalinguístico cujo terceiro participante é um dos maiores talentos dos espetáculos da Broadway. A narrativa de “Tick, Tick… Boom!” vai e volta, ora retratando a vida pessoal de Jonathan Larson (1960-1996), ora se concentrando em seu processo criativo, ainda que seja impossível dissociar uma do outro. Vivido por Andrew Garfield com sua competência usual, a produção de Miranda se presta a uma retrospectiva da curta vida de Larson, entremeando nas sequências que registram a angústia de uma vida meio besta, defendida com a ajuda de um subemprego medíocre e, em muitas situações humilhante — sobretudo quando se reconhece dotado de uma qualidade que os demais não têm —, seus momentos de catarse artística, em que consegue por para fora seus anseios e transforma a opressão da existência em canções.
No ponto mais alto da disputa pelo espaço entre Estados Unidos e União Soviética, a Orbit-4, nave que levava uma tripulação russa, volta com um único ocupante vivo. Ele está desmemoriado e, portanto, a investigação a fim de se saber o que teria acontecido com o restante da equipe vai ser mais difícil do que se pensava. O astronauta permanece isolado numa instalação do governo, tratado como um criminoso, à espera de Tatiana Klimova, psicóloga encarregada de averiguar o que teria se passado e por que o astronauta se esqueceu de tudo quanto viveu ao longo da missão. Essa é a única possibilidade de se decifrar o enigma.
No fim da década de 1990, Joanna, recém-formada em literatura, é contratada por uma agência literária, ainda que conheça seu talento para escrever. Enquanto esse seu potencial não se revela para o mundo, ela se vale de sua habilidade com as palavras numa de suas atribuições profissionais: redigir cartas para responder aos fãs em nome de Jerome David Salinger (1919-2010), o maior agenciado da empresa — e também conhecido por “O Apanhador no Campo de Centeio” (1951), sua obra máxima. Esmerando-se mais do que o recomendável no exercício de sua função, Joanna se aproxima o quanto pode dessa personalidade meio obscura, aproveitando para saber o que realmente lhe falta para também virar uma literata de sucesso.
Produção original da Netflix dirigida e coescrita por David Michôd, “O Rei” se debruça sobre a vida de Henrique V (1386-1422), soberano da Inglaterra entre 1413 e 1422. Plena de monarcas que abdicariam do trono se pudessem, a dinastia real inglesa impõe a Henrique V assumir os destinos de sua nação, tarefa árdua em se considerando seu temperamento muito mais inclinado ao de mero plebeu que de um dos homens mais influentes do mundo. No filme, a ascensão de Henrique V ao poder quando da morte do pai, Henrique de Bolingbroke, é esquadrinhada à luz dos sucessivos desentendimentos entre a Inglaterra e a França, que redundam na Guerra dos Cem Anos (1337-1453).
“My Happy Family”, coprodução da Geórgia com a Alemanha e a França, instala o espectador na sala de uma típica família tradicional do extremo Leste Europeu, patriarcal e conservadora. Entre eles vive Manana, cinquentona, sem voz, amargurada, oprimida pela mãe, marido e filhos. Ela tenta não enlouquecer em meio a tanta gente dividindo o mesmo espaço, e vai administrando os conflitos que irremediavelmente surgem. Até que resolve dar uma guinada radical, antes que seja tarde demais, e sai de casa, deixando para trás tudo o que tem e as referências sobre o que é a vida em sociedade. A seu favor, a imensa vontade de ser, enfim, feliz, com todos os percalços em que essa decisão possa implicar.
Aos dez anos, Chihiro é uma menina que, como quase todas as outras crianças da mesma idade, pensam que o mundo gira em torno do seu próprio umbigo, e, claro, vira uma fera ao saber que terá de se mudar com os pais. Eles dão início a essa longa viagem, mas a menina nota que alguma coisa dera errado. Seu pai certamente se perdera e conduzira a família para a entrada de um imenso túnel, guardado por uma estátua. Ainda que a situação se apresente o seu tanto inusitada, os pais de Chihiro entram, levando a menina consigo. Depois de andarem por algum tempo, chegam a um vilarejo aparentemente abandonado, embora haja um restaurante em cujo balcão estão servidos vários pratos. Enquanto os pais se fartam, a protagonista sai num passeio e conhece Haku, que lhe recomenda deixar o povoado o quanto antes. Chihiro fica impressionada com a veemência do menino e volta correndo ao encontro dos pais. Para sua surpresa, nessa fábula sobre autoconhecimento e procura de respostas para os insondáveis mistérios da existência, ela se depara com dois porcos gigantescos. Começa um novo caminho para Chihiro, através de um mundo fantasmagórico, cheio de seres monstruosos e completamente hostis à presença humana.