7 melhores filmes da Netflix em 2021 até agora, segundo a crítica

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Há quase três mil anos, a filosofia é a grande responsável por suprir o homem de algum esclarecimento quanto a suas tantas mortificações. Aliada a ela, a literatura — e, mais especificamente, a poesia — tentam dar cabo dos grandes incômodos existenciais do gênero humano, que parece nunca encontrar seu lugar no mundo. Publicado postumamente em 1982, “O Livro do Desassossego”, do poeta lusitano Fernando Pessoa (1888-1945), um dos maiores literatos em língua portuguesa da história, reúne cerca de quinhentos textos sem nenhuma lógica entre si, como se o bardo desse azo a seu próprio fluxo de pensamento, descontinuado, rebelde, caótico, sobre os mais diversos assuntos. Dividida em duas partes, a obra é assinada por dois dos heterônimos do autor. Valendo-se da identidade de Vicente Guedes, Pessoa teria se dedicado à produção que compreende os anos 1910 e 1920; Bernardo Soares, um de seus pseudônimos mais conhecidos, responde pelos escritos das fases terminais das décadas de 1920 e 1930. Por meio da prosa poética, o que se encontra ali é um diário em que Pessoa se estende sobre a presunção de cada homem, sempre tomado das mais tolas certezas quanto à superioridade sobre os demais; a falta de sentido da vida, guiada por mecanismos inexplicáveis e incompreensíveis ao alcance da natureza humana; e mormente o tormento tão íntimo do poeta frente à imanência mesma da vida, que se faz presente, queiramos ou não, estejamos ou não para ela preparados. Por mais atribulada que a vida pareça, ela tem seus muitos momentos em que o esplim, o tédio de tudo, se apossa de nós, e viver, também nessas ocasiões, é uma profissão de fé. O que pouparia mais sofrimento: reconhecermo-nos condenados para sempre a um ciclo de calmaria e borrasca, evitando dispender esforços desnecessários (e inúteis) para nos livramos da dor, ou, ao contrário, já sabendo que poderíamos ser colhidos por uma desventura qualquer, nos munirmos de toda a bravura que conseguíssemos, por mais que isso redundasse frustrado e mesmo insano? Martha Weiss, a protagonista de “Pieces of a Woman” (2020), do húngaro Kornél Mundruczó, não dispõe de nenhuma das duas alternativas, visto que só tinha uma coisa em mente: dar à luz um filho saudável, sonho de toda mulher que carrega em si uma nova semente de vida e de renovação. Em “Um Ninho para Dois” (2021), dirigido pelo americano Theodore Melfi, a perda de um filho também se impõe sobre a vida de um casal, o que provoca traumas lancinantes, mas os motiva a descobrir razões para seguirem juntos — por mais insólitas que pareçam. “Pieces of a Woman”, “Um Ninho para Dois” e mais cinco filmes — lançados ou que estrearam no Brasil em 2021, todos na Netflix —, nos fornecem aquela dose extra de alento quando a vida dá sinais de que quer sair dos trilhos.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix