10 filmes extraordinários (e premiados) na Netflix que você pode ter perdido

10 filmes extraordinários (e premiados) na Netflix que você pode ter perdido

A cada homem que nasce, um universo se ilumina. O gênero humano se caracteriza por suas tantas dúvidas, seus muitos sonhos, seu inescapável destino, suas exatas inadequações. Os dilemas existenciais, tão comuns na vida do mais ordinário dos ordinários, nos tiram do prumo ao se prestar como uma espécie de prova de fogo, a fim de descobrir onde somos capazes de chegar em busca de um ideal, de uma convicção, de um sonho. A pobre natureza humana tem a necessidade de que lhe permitam deixar o rigor do mundo, a austeridade da existência, e partir para uma dimensão em que tudo soe mais genuíno, mais racional, em que a vida mesma faça mais sentido — ainda que por um tempo limitado, ainda que esse cenário só exista para aqueles que o planejam. As grandes transformações sociais começam dentro de cada homem, daí ser impossível, à luz do pensamento de gênios como o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), uma pretensa salvação da humanidade. A humanidade só se salvaria, irredutivelmente, se cada um de nós se desse conta de suas faltas e se emendasse, o que, é uma lástima, nunca vai acontecer. Cada um é responsável por sua própria redenção — ou sua própria desdita —, sendo sempre possível, evidentemente, arrepender-se, de coração, até o último segundo, tomar um caminho diferente e refazer a vida tanto como possível. No entanto, nunca satisfeito com o mundo da forma como se lhe apresenta, o ser humano se devota a combater os demônios que o atacam, tenham a cara que quiserem ter. A injustiça social, a fome, a ira santa motivada pelo cinismo e o desdém de quem teria por função primeira defender a população disso, a sede nunca saciada por uma utopia que nunca se concretiza, as quimeras que se perdem na grossa bruma do tempo… mas que algumas vezes, passados muitos anos, se tornam realidade. Visando a libertar o povo de seu país de uma sucessão de governos autocráticos, um homem se torna membro de uma guerrilha, com o propósito de assaltar bancos e repartir o dinheiro entre quem precisa. O uruguaio José Alberto Mujica Cordano, ex-paramilitar, ex-preso político, ex-mandatário maior de sua terra e hoje apenas um humilde agricultor familiar e sossegado octogenário, retirado ao bucolismo de seu pequeno sítio, é o protagonista de “A Noite de 12 Anos” (2018), do diretor Álvaro Brechner. Determinado a salvar o destino não de uma pátria, mas de sua própria filha, o protagonista de “Cargo” (2018), de Ben Howling e Yolanda Ramke, corre contra o tempo a fim de manter a salvo a pequena. Esses e mais oito títulos, lançados entre 2021 e 2014, todos no acervo da Netflix e com alguns prêmios na algibeira, não merecem ser relegados ao ostracismo. Quem não viu tem que ver.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix