Por que estamos perdendo a guerra contra as redes sociais?

Por que estamos perdendo a guerra contra as redes sociais?

Não, não estou exagerando: existe uma guerra contra as redes sociais. Não é aquela coisa populista que o Trump promovia. Não tem o FBI batendo na sua porta. É uma guerra individual: cada um de nós tentando controlar o vício digital. E, assim como a “guerra contra as drogas“, estamos enxugando gelo. Vamos perder. Manja aquele momento nos filmes em que os soldados fumam e conversam entre uma batalha e outra? Então, é isso que tô fazendo aqui com você. Não fumo, mas você entendeu a ideia, né? O que você fala pro seu parceiro de pelotão quando sabe que vai perder a batalha? Eu sei que você está na mesma trincheira que eu, lutando para não perder a manhã no Facebook. Então acenda um cigarro. Ou pegue um café.

É o seguinte: eu não sou um purista que odeia tecnologia e quer destruir os celulares do mundo. Ok, já senti vontade de espancar alguns algoritmos, mas isso não conta. Eu aderi às redes sociais logo no começo. Sim, eu fazia parte da comunidade “Pica-Pau descendo as cataratas do Niágara”, do Orkut, quem nunca? E faço parte de uma rede social de enófilos que me ajuda a evitar vinhos com gosto de k-suco. Redes sociais são ótimas.

Mas a gente vai ter que fazer alguns ajustes. Estamos perdendo produtividade e nos tornando mais infelizes por conta das redes sociais. Há uma penca de estudos sobre isso. O documentário “O Dilema das Redes” é só um manual “for dummies” sobre o assunto. Não tenho espaço aqui para postar todas as pesquisas a respeito, mas fica aqui a entrevista com a jornalista Marta Peirano que escreveu sobre o assunto É um bom começo.

Dizem que apostar na política de redução de danos é uma forma mais inteligente de lidar com as drogas. Melhor do que sair de fuzil na mão. Não sei, mas estou tentando fazer algo parecido. Porque, vamos confessar: redes sociais são como drogas. Não uso drogas, o entorpecente mais perigoso que consumo é Doritos sabor nacho. Mas os efeitos que elas têm são conhecidos. E dá para compará-las com as redes sociais. Aliás, quer saber? Pra mim o Zuckerberg é um novo Pablo Escobar.

É só prestar atenção. Instagram é um LSD: deixa tudo com cores estranhas. Linkedin é cocaína, ali todo mundo é hiperativo. Mas o pior é mesmo o Twitter. Esse é crack. São doses rápidas e intensas. Você quer sempre mais. 30 minutos e você vira um noinha.

Eu já abandonei o Twitter umas três vezes. Só que no meio da pandemia eu decidi voltar. Deve ter sido um surto de masoquismo: “Nossa, preciso de mais uma fonte de irritação!” Passei algumas semanas animado, twittando. Então teve o dia em que eu acordei com a firme vontade de passar horas lendo um livro e depois escrever um pouco. Mas caí na besteira de abrir meu Twitter. Justo em um dia com protestos antirracistas sacudindo os Estados Unidos. Se eu queria matar a sede por informação, aquilo foi como abrir uma mangueira de bombeiro nas minhas fuças.

A maioria das pessoas tratava a coisa como se fosse uma rave iluminada por casas queimando. Não consegui evitar a impressão de que havia muita gente exibindo uma indignação superficial, de vitrine. Eu sei que redes sociais são um fenômeno de comunicação importante. Mas não sei se quero participar de um fenômeno que se comporta como a Nana Gouvêa, que já fez pose diante de tragédia Decidi congelar a conta de novo. Mas tive uma recaída. Estou de volta ao Twitter.

Estou tentando diminuir o uso de redes sociais. Facebook? Olho 2 ou 3 vezes por dia. Instagram? Tá bom, esse eu olho umas 10 vezes. Twitter é mais difícil. Pra que acompanhar CPI? É só olhar os tweets! E vem com piadinha junto. Tô tentando me controlar para não virar noia.

Porque estou tentando me aprofundar nas coisas. Ler mais. Estudar mais. Refletir mais. Acessar redes sociais dá uma eletrizada no cérebro, é legal. Mas às vezes a sensação é a de beijar uma Itaipu. Torra o cérebro. Esgota a capacidade de raciocinar e ficar atento. Mas, juro, estou tentando me controlar.

O cigarro acabou? Ok, vamos recarregar as armas. De volta para a trincheira. Vamos perder essa guerra. Mas temos que continuar disparando. Desistir não é uma opção. Você cobre a retaguarda que eu vou na frente, combinado?

PS: sim, eu sei que esse texto pode ser compartilhado em redes sociais, o que parece incoerência. Não é. Trate isso como uma dose de álcool. Os médicos dizem que uma dose por dia até faz bem para a saúde. E, ah, se quiser, meu Twitter é esse: @Marcelo_dias_s. Vai lá, me segue. Sério. Agora! E vai me passando seus seguidores. Me segue agora senão eu corto sua garganta! Anda, cara!