O amor não se cansa dos corações desatinados

O amor não se cansa dos corações desatinados

É dos covardes que elas gostam mais. Dos tipos que abrem a porta para o amor entrar. Daqueles que declamam poesia antes, onde, quando menos se espera. Dos que ajudam um velho sonho a atravessar a rua. A vida, como ela é, atropela os intentos de qualquer um que sofra lampejos de utopia. Mesmo assim, é preciso ter coragem para enfrentar a iniquidade, com a força de um homem, com a sagacidade de uma mulher, com a disposição de qualquer ser vivo comprometido em repelir a morte provocada por violência ou por inanição de humanismo. O vírus da intolerância deteriora qualquer organismo, a começar pela cabeça. É por isso que elas se conectam, à primeira vista, aos gentis. Os tipos que, de tão afáveis, são vistos e tratados como tolos. Aqueles que se esquivam da natureza delicada que lhes é inata para passarem por autoritários em rompantes de fantasia de alcova. Os que arrombam corpos com a delicadeza de uma pluma, sob o consentimento expresso de um olhar, de uma palavra ou, de forma velada, com o artifício ardente de um beijo que tudo permite, até mesmo o proibido. É permitido permitir. Amantes erram por esse mundo afora sem saber onde vai dar. Nem sempre se acerta ao dizer que vagar a esmo será um estado de fuga. Há lugares perfeitos para se viver amores imperfeitos. Contudo, nem tudo é desacerto quando se cogita amar. É com os fracos renitentes que elas mais se surpreendem. Cinéfilos que choram. Brutos que vacilam. Sujeitos que cultivam flores em tempos de destruição. Indivíduos providos de um senso de humor invulgar. Divagar se vai ao longe. Trocadilhos infames. Estribilhos insones. Trilhas musicais que marcam amores impossíveis. Apaixonados que cantam. Corpos que dançam. Os corações em festa. Deve ser por isso que elas se permitem encantar, de novo, pela última vez — a primeira, nesta semana — só para conferir se o amar compensa, ainda que possa dar em nada.