Método Chico Buarque de Hollanda para conquistar um grande amor ou o Prêmio Camões de Literatura

Método Chico Buarque de Hollanda para conquistar um grande amor ou o Prêmio Camões de Literatura

Fotografia: A.PAES / Shutterstock.com

— Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim, por uma coisa atoa, uma noitada boa, um cinema, um botequim.

— Quem te viu, quem te vê.

— O meu amor tem um jeito manso que é só seu. Desfruta do meu corpo como se o meu corpo fosse a tua casa. E eu te farei as vontades, te direi meias-verdades, sempre à meia-luz. E te farei vaidoso supor que és o maior e que me possuis.

— Diz se é perigoso a gente ser feliz. Será que é de louça? Será que é de éter? Será que é loucura? Ando com minha cabeça já pelas tabelas. Claro que ninguém se toca com minha aflição.

— Não, não fuja não. Finja que agora eu era o seu brinquedo, eu era o seu pião. Sim, me dê a mão, a gente agora já não tinha medo. No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido.

— Amei daquele vez como se fosse a última. Me diz pra onde ainda posso ir. Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.

— Eu te amo. Eu sou sua menina, viu?

— Carolina, nos seus olhos tristes guarda tanto dor.

— Diz pra eu não ficar sentida. Diz que vai mudar de vida pra agradar meu coração.

— De todas as maneiras que há de amar, nós já nos amamos. Sabe, no fundo, eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo, além da sífilis, é claro.

— O amor não tem pressa. Ele pode esperar em silêncio. Não se afobe, não, que nada é pra já. Amores serão sempre amáveis.

— Deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa. E qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d’água.

— Te amo. Te amo. Eternamente, te amo. Minha solidão se sente acompanhada. Teu colo. Teu colo. Eternamente, teu colo.

— Seus olhos morenos me metem mais medo que um raio de sol.

— Acorda, amor. Deixa a tristeza pra lá. Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor. Me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho, um riacho de amor. Diz que me ama e eu não sonho mais.

— O que será que me dá, que me queima por dentro, o que será que me dá? Já conheço os passos dessa estrada. Sei que não vai dar em nada. Já conheço as pedras do caminhos e sei que ali, sozinho, eu vou ficar. Eu trago o peito tão marcado de lembranças do passado. E você sabe a razão. Vou colecionar mais um soneto, outro retrato em branco e preto, a maltratar meu coração.

— Vem, meu menino vadio. Vem sem mentir pra você. Vem, que eu te quero fraco. Vem que eu te quero todo. Vem que eu te quero todo meu.

— Tua beleza é quase um crime.

— Vida, minha vida, quero ficar no teu corpo feito tatuagem, que é pra te dar coragem pra seguir viagem quando a noite vem. Quero brincar no teu corpo feito bailarina que logo se alucina, salta e te ilumina quando a noite vem.

— Acho que estás te fazendo te tonta. Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz.

— Agora, falando sério, olhos nos olhos, trocando em miúdos, eu te amo. Eu te amo, com açúcar, com afeto, como se fosse a primavera, como um samba de adeus.

— Vai passar.

— Eu te amo. Palavra de mulher.

— Logo eu? Fantasia. Você não sabe amar.

— Não sonho mais. Meu caro amigo, eu te amo.

— Tantas palavras… Tanto amar… Deus lhe pague. Mil perdões. Eu te amo, morena dos olhos d’água. Querida, estrela do meu caminho, me ensina a não andar com os pés no chão.

Este texto é uma homenagem e foi escrito, integralmente, com fragmentos da obra poética do cantor, compositor e escritor, Chico Buarque de Hollanda, laureado em 2019 com o Prêmio Camões, pelo conjunto de sua obra literária.