Gatos viciam. E a vida é muito curta para ter um gato só

Gatos viciam. E a vida é muito curta para ter um gato só

Há dois anos e meio adotei uma gatinha que fora rejeitada pela mãe. Chegou para mim com menos de três semanas de vida. Estava faminta, parecia um rato desnutrido. Como não tinha dentes, era preciso dar-lhe o alimento líquido que o médico veterinário indicou. Eu usava uma mamadeira que parecia de boneca, e, a cada três horas, dava uma escapada do meu trabalho para ir até o apartamento e alimentá-la.

A gata branca com manchas pretas recebeu o nome de Sofia. Quando ela completou dois meses, eu tinha pena de sair para trabalhar e deixá-la sozinha. Por isso, resolvi adotar outra gatinha, que também tinha sido resgatada da rua. Charlotte, a gata malhada em tons de cinza, chegou também filhote. E foi assim que se iniciou a minha vida pelo mundo dos bichanos.

Mas eu não sabia nada sobre gatos. Não sabia que o meu apartamento receberia uma nova decoração: pelos sobre os móveis; cortinas rasgadas; tecido do encosto das cadeiras arranhado; caixas de papelão no meio da sala; lençol cobrindo o sofá; potes de água pelos cantos e brinquedinhos por todo o chão — sem falar naqueles que sumiram misteriosamente. Mesmo com os arranhadores vendidos em casas de pets, percebi que o gato gosta de dar uma arranhadinha no canto do sofá que está descoberto.

Eu, que achava que nunca deixaria um animal subir na minha cama, chamo pelas gatas quando me deito à noite. Quero que elas se aninhem ao meu redor: uma dorme num travesseiro ao lado do meu, olhando para mim; a outra costuma deitar com a cabeça em cima do meu pé. E já me acostumei com o despertador felino que mia antes das seis da manhã.

Enquanto escrevo este texto, a Charlotte fica passando, de um lado para o outro, sobre o notebook — vira e mexe ela pisa no teclado e tenho que apagar o que ela “digitou”. E nem adianta eu colocá-la no chão, pois ela subirá na mesa quantas vezes eu descê-la. Se ela falasse, diria: “Humana, pare de escrever e faça carinho em mim”.

Olho para minha estante acima da mesa e vejo meus livros de Ernest Hemingway. Ele também era apaixonado por gatos. O escritor chegou a ter mais de 20 felinos morando em sua casa. Fico imaginando ele escrevendo seus livros enquanto os peludos se acariciavam em sua máquina de escrever.

É claro que criar esses animais exige dedicação, cuidados e responsabilidade. Mas, na verdade, os gatos não dão muito trabalho: eles dão amor e carinho. Gatos são companheiros, brincalhões e engraçados. São exigentes, também. Cheios de personalidade: quando ele não está a fim de fazer algo, não adianta insistir. Mas não concordo quando falam que o gato é um bicho independente no sentido de ser egoísta e indiferente ao dono. Minhas gatas sentem saudades quando viajo. Elas me esperam na porta ao final do dia e me pedem para brincar com elas.

Adoro pegá-las no colo. Uma delas não gosta muito e sempre dá um jeitinho de escapar. Mas a outra gatinha se esparrama nos meus braços e me abraça de volta, levantando a cabeça para que eu dê beijos no seu pescoço peludo. Sinto seu ronronar em meu peito e recarrego minhas energias. Só quem tem gatos entende esse vício que nós temos por eles.

Estou pensando em adotar o terceiro. O nome, Thor, foi escolhido pelo meu namorado — e ele nem ligava para esses animais de estimação, mas se rendeu às gatinhas (ou às “meninas”, como ele as chama). É que esses felinos nos conquistam com sua ternura e travessura, sua lealdade e sinceridade. E a vida com eles fica tão mais divertida que dificilmente conseguimos ter um gato só.