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Retorno da franquia de maior sucesso da Netflix traz mistério que faria Agatha Christie aplaudir de pé John Wilson / Netflix

Retorno da franquia de maior sucesso da Netflix traz mistério que faria Agatha Christie aplaudir de pé

A nova investigação conduzida por Benoit Blanc, vivido por Daniel Craig, parte de uma ocorrência aparentemente simples: um corpo encontrado em uma propriedade isolada cuja dinâmica interna é dominada por conflitos antigos e rivalidades ainda em fermentação. O roteiro opta por uma organização funcional, privilegiando a exposição gradual dos fatos em vez de apostar em rupturas estruturais.

Josh O’Connor interpreta o personagem que inicialmente direciona o olhar do espectador, um observador envolvido demais com a comunidade para manter distanciamento crítico, e é por meio dele que se delineia o conjunto de tensões que antecedem o crime. Em paralelo, Glenn Close surge como figura de presença dura, conduzindo suas ações de modo calculado, enquanto Josh Brolin incorpora um sujeito errático cuja imprevisibilidade parece servir menos como alívio e mais como indício de instabilidade.

A investigação não demora a apresentar divergências entre versões, pequenas falhas nos relatos e detalhes que se contrapõem. A montagem organiza essas informações de modo objetivo, sem ornamentações que desviem o foco da lógica interna do crime. A cada cena, o problema central se torna mais claro: ninguém na casa ocupa posição neutra, e a morte funciona como catalisador de verdades antes mantidas sob silêncio.

Moralidade, conflito e funcionamento dos personagens

O filme adota um eixo temático que ultrapassa o mero jogo de dedução. As motivações dos suspeitos se relacionam a questões de fé, ressentimento e incapacidade de admitir falhas pessoais. Jeremy Renner interpreta um homem cuja religiosidade funciona como escudo para justificar decisões contestáveis; Andrew Scott segue caminho semelhante ao encenar alguém que usa convicções pessoais para esconder interesses próprios. Daryl McCormack torna seu personagem mais contido, com ações que revelam contradições discretas, mas essenciais à compreensão do caso.

O ponto mais sólido das interpretações está na interação entre Craig e O’Connor. O detetive, fiel ao método de observar antes de concluir, encontra no jovem protagonista alguém que vive uma angústia latente, atravessada por culpa e senso de responsabilidade distorcido. A parceria entre os dois movimenta o núcleo dramático e oferece dinâmica interna ao mistério. Mesmo assim, alguns personagens secundários não alcançam profundidade suficiente para além da função narrativa. Thomas Haden Church e Cailee Spaeny se posicionam de forma mais empática, ainda que permaneçam restritos a papéis de suporte dentro da estrutura.

Forma, ritmo e implicações do desfecho

A direção de Rian Johnson aposta em uma abordagem mais sombria do que nos títulos anteriores. A fotografia de Steve Yedlin utiliza contrastes mais rígidos, explorando a sensação de confinamento que rege a história. Nathan Johnson trabalha uma trilha que acompanha esse deslocamento tonal, reforçando um clima de tensão contínua. A narrativa, embora suficientemente articulada, se apoia em grande volume de informações, especialmente no primeiro terço. Esse excesso inicial compromete a fluidez e demanda atenção constante para que o espectador reconstrua a relação entre eventos aparentemente desconexos.

Quando Benoit Blanc enfim reorganiza o conjunto de dados e revela os mecanismos que sustentam a morte, o filme alcança clareza ao alinhar motivações individuais e consequências coletivas. O crime não é resultado de genialidade maléfica, mas de decisões acumuladas com base em medo, orgulho e frustração. Ao final, resta um entendimento austero: a verdade não devolve equilíbrio às pessoas envolvidas, apenas delimita responsabilidades. É nesse contraste entre racionalidade e ruína emocional que “Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out“ encontra sua força, propondo uma leitura menos dependente de reviravoltas e mais interessada em como escolhas individuais constroem, aos poucos, a própria tragédia.

Filme: Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out
Diretor: Rian Johnson
Ano: 2025
Gênero: Comédia/Crime/Drama/Mistério/Suspense
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.