Filme que está há 4 semanas no Top 10 do Prime Video vira obsessão por sua tensão constante Divulgação / Capelight Pictures

Filme que está há 4 semanas no Top 10 do Prime Video vira obsessão por sua tensão constante

Em “12 Horas para o Fim do Mundo”, uma chuva de meteoros altera a rotina de Vladivostok e rompe a vida de uma adolescente que já lidava com distâncias emocionais. Lera, de 15 anos, vive na cidade portuária enquanto o pai, Valery, atua como engenheiro em uma estação espacial. Quando fragmentos de rocha atingem a região e derrubam infraestrutura básica, pai e filha ficam separados por milhares de quilômetros, ligados apenas por sistemas de comunicação ainda ativos. A partir dessa fissura, o longa constrói a tensão entre o que ameaça a jovem em terra e o que o pai consegue prever da órbita. Dirigido por Dmitriy Kiselev e estrelado por Veronika Ustimova e Anatoliy Beliy, o filme combina drama familiar e ficção científica em registro de entretenimento amplo.

O enredo se estrutura em duas frentes paralelas. Em terra, Lera precisa atravessar uma cidade parcialmente destruída, com ruas bloqueadas, serviços colapsados e risco constante de novos desabamentos. No espaço, Valery acompanha em tempo real imagens da área atingida e tenta orientar a filha, projetando rotas mais seguras, prevendo quedas de estruturas e avaliando recursos ainda disponíveis. O uso dessa comunicação à distância funciona como motor dramático: a cada chamada bem-sucedida, cresce a sensação de que o pai pode controlar a situação, ao mesmo tempo em que a fragilidade dos canais eletrônicos lembra a qualquer momento a possibilidade de ruptura.

Kiselev adota uma perspectiva centrada no núcleo familiar em vez de se concentrar em autoridades, equipes militares ou comitês científicos. A escolha desloca o foco da macroescala do desastre para conflitos cotidianos: a ausência prolongada do pai, o ressentimento da filha, a dificuldade de confiar em ordens vindas de alguém que nunca está presente. Esses elementos surgem em diálogos breves e em reações silenciosas, sobretudo nas cenas que antecedem a chuva de meteoros, quando ainda há tempo para pequenas discussões domésticas. Quando o impacto se torna visível, as mágoas permanecem como subtexto que orienta decisões sob pressão.

No campo visual, “12 Horas para o Fim do Mundo” busca o impacto típico do cinema-catástrofe, com grandes panorâmicas de prédios em ruínas, fumaça constante e veículos abandonados em vias obstruídas. Os efeitos digitais variam de eficiência: algumas vistas amplas de Vladivostok devastada soam artificiais, com texturas que denunciam a composição em computador, enquanto sequências mais fechadas, em corredores ou interiores destruídos, criam sensação concreta de risco. Quando a câmera acompanha Lera por escadas instáveis, hospitais lotados ou passagens estreitas, a proximidade compensa as limitações dos planos gerais.

O contraste entre a estação espacial e a cidade em colapso guia a encenação. No espaço, predominam enquadramentos mais estáticos, telas cheias de dados e o som controlado de avisos eletrônicos. Na Terra, o filme aposta em movimentos mais bruscos de câmera, ruído de sirenes, gritos à distância e quedas de objetos pesados. Essa alternância ajuda a manter a progressão do suspense: quando a trajetória de Lera se torna mais arriscada, o olhar volta para a órbita, onde o pai precisa reconfigurar cálculos e adaptar instruções a cada nova falha de energia.

As atuações acompanham essa divisão. Veronika Ustimova sustenta a personagem em registro de adolescente comum, que hesita, se assusta e reage por impulso, mas gradualmente aceita a responsabilidade de conduzir a própria rota. Não se trata de uma heroína imbatível, e o filme preserva momentos em que o medo paralisa, sobretudo em situações que envolvem fogo e espaços confinados. Anatoliy Beliy, limitado ao ambiente da estação, trabalha com expressões contidas e mudanças rápidas de tom na voz. O personagem pouco pode fazer fisicamente, e a interpretação explora essa impotência, deixando claro que as ordens transmitidas por vídeo buscam compensar anos de ausência.

O roteiro, porém, recorre com frequência a atalhos emocionais. Conflitos antigos surgem em falas explicativas, lembrando ao espectador culpas e traumas em vez de deixá-los dedutíveis pelas ações. A ligação entre o passado da família e alguns obstáculos presentes na cidade se apoia em coincidências que soam calculadas demais, como encontros em locais pouco prováveis em meio ao caos. A pressão do tempo, indicada no título, aparece em diálogos e marcadores visuais, mas nem sempre parece condicionar a logística dos deslocamentos, o que reduz a sensação de urgência em determinados trechos.

Na parte sonora, a trilha musical acompanha de perto os movimentos do enredo. Cordas em crescendo acompanham passagens em que Lera precisa correr ou escolher entre duas rotas possíveis, enquanto temas mais suaves surgem nas conversas entre pai e filha. Em alguns momentos, o volume excessivo da música diminui a força de ruídos do cenário, como o estalo de estruturas prestes a ceder ou o ranger de ferragens, que poderiam contribuir de maneira mais precisa para o suspense. Ainda assim, o desenho sonoro em cenas pontuais, como quedas de destroços e falhas de comunicação, reforça a sensação de vulnerabilidade.

A fotografia diferencia com clareza os dois ambientes principais. Na estação espacial predominam tons frios, iluminação controlada e linhas retas, reforçando a impressão de ordem e rotina técnica. Em Vladivostok, as imagens aderem a cores mais sujas, com fumaça, neblina e partículas no ar, sublinhando a perda de controle. Essa oposição visual ajuda a organizar a geografia da narrativa, permitindo ao espectador entender, em cada corte, se o perigo está presente de forma imediata ou mediada por telas.

Como ficção científica, “12 Horas para o Fim do Mundo” não se aprofunda em explicações sobre a origem ou a dinâmica dos meteoros. A verossimilhança científica cede espaço à exploração das consequências do fenômeno para uma família que depende de tecnologia para se comunicar. O que importa é a hipótese básica: um pai com acesso privilegiado a informações e instrumentos remotos orienta à distância uma filha presa em ruínas instáveis. A partir dessa premissa, o filme testa até que ponto cálculos e mapas conseguem suplantar improvisos de quem corre sob escombros.

Dentro do panorama recente de produções russas voltadas ao mercado internacional, o longa se alinha a títulos que combinam efeitos visuais ambiciosos, enredos centrados em ameaças de grande escala e foco reiterado em laços familiares. “12 Horas para o Fim do Mundo” não inventa novas soluções para o gênero, mas explora com competência a ideia de coordenação remota em contexto de desastre e mantém a tensão em torno das escolhas que pai e filha conseguem tomar enquanto ainda dispõem de energia, sinal e algum tempo para tentar se reencontrar.

Filme: 12 Horas para o Fim do Mundo
Diretor: Dmitriy Kiselev
Ano: 2022
Gênero: Aventura/Drama/Ficção Científica
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★