O filme de ação que conquistou o público global em 2025 e se tornou um dos mais assistidos da história da Netflix Divulgação / Netflix

O filme de ação que conquistou o público global em 2025 e se tornou um dos mais assistidos da história da Netflix

A narrativa parte de um princípio simples: quando a violência se torna rotina, resta pouco espaço para heroísmos fáceis. “Contra-Ataque”, com Luis Alberti e Noé Hernández no elenco principal e direção de Chava Cartas, acompanha um núcleo de agentes que, após uma missão bem-sucedida, passa a ser caçado por um cartel decidido a retaliar. O filme escolhe a rota do realismo funcional, ocupando ruas estreitas, galpões e trechos de estrada com o rigor de quem calcula distâncias, entradas e saídas, sempre evitando dispersão.

O enredo progride como uma sequência de decisões de curto prazo: avançar, segurar posição, extrair feridos, mudar de rota. Essa lógica aparece com nitidez no desenho dos espaços. A câmera prefere planos próximos, mas não confusos; a montagem preserva eixo e direção; o espectador entende onde cada personagem está e por que se move. Quando a perseguição empurra o grupo para áreas abertas, o filme alterna pontos de vista altos e baixos para localizar armas, veículos e obstáculos, evitando o vício de multiplicar ângulos que apenas desorientam.

O som reforça essa legibilidade. Disparos têm corpo e variação conforme ambiente; motores anunciam perigo antes de entrar em quadro; pausas breves entre rajadas servem de marcador para a próxima ação. Não há trilha insistente tentando fabricar intensidade. A tensão nasce do contraste entre barulho e silêncio, da expectativa de um ataque lateral, do receio de que a munição acabe. Em vez de estilização vazia, há um registro concreto do que significa atuar cercado, com suprimentos limitados e pouca margem de erro.

As atuações acompanham essa proposta. Luis Alberti compõe um líder pragmático, atento ao cálculo de perdas e ao moral da equipe. Seu rosto carrega exaustão sem teatralidade, e a autoridade se afirma pela capacidade de decidir sob pressão. Noé Hernández adota gestos mínimos e uma presença firme, evitando vilania carismática. O antagonismo se impõe por risco real, não por discursos. Entre eles, coadjuvantes ganham traços rápidos — uma piada curta, um hábito, uma forma de segurar a arma — que bastam para a identificação imediata em meio ao deslocamento constante.

A direção opta por um filme enxuto, sem episódios paralelos nem subtramas decorativas. Essa concisão cobra um preço: personagens secundários raramente recebem detalhes biográficos, e alguns diálogos recorrem a frases feitas do meio militar. Ainda assim, a economia narrativa favorece a consistência do conjunto de ações. Cada sequência empurra a seguinte com causa e efeito claros, e a sensação de encurralamento se espalha à medida que rotas falham e as opções diminuem. O resultado é um percurso que se mantém consistente do primeiro ao último deslocamento visível, sustentado por escolhas técnicas que privilegiam entendimento.

A fotografia adota tons terrosos para exteriores e luz fria em interiores de passagem, como depósitos e corredores. O contraste marca a passagem do dia e a fadiga acumulada, sem buscar beleza ornamental. Nas tomadas aéreas pontuais, a câmera amplia a leitura tática: revela bloqueios de estrada, possíveis rotas de fuga, aproximação de perseguidores. O recurso aparece de modo parcimonioso e serve à compreensão do cenário, não ao exibicionismo. A mesma parcimônia se aplica a efeitos digitais, discretos o bastante para não roubar a atenção de impactos físicos e poeira.

O filme evita glamurizar o crime. O cartel é mostrado como força persistente, com recursos e alcance, mas sem fetiche. O foco recai na posição frágil dos agentes e nas escolhas difíceis que a perseguição impõe. Quando ocorrem baixas, a câmera registra consequências imediatas: perda de capacidade de fogo, mudança de plano, urgência médica improvisada. A violência tem custo e repercussão narrativa, o que eleva a gravidade de cada avanço. A fronteira, tratada como paisagem tensa, funciona menos como símbolo e mais como terreno que molda deslocamentos, com seus acessos, poeira, trânsito e vigilância.

A montagem merece destaque pela disciplina com que preserva linhas de visão e tempo de reação. Em combates corpo a corpo, cortes respeitam o movimento e permitem acompanhar golpes e recuos sem confusão. Em perseguições de veículo, a alternância entre interior e exterior mantém a dimensão dos riscos compreensível: velocidade, distância, cobertura. O filme recusa o impulso de cobrir cada ação com múltiplas câmeras só para inflar intensidade. Quando corpo e objeto se movem dentro do quadro e a edição não atropela, o impacto visual decorre de causa direta e convincente.

A escrita dramática aposta na cooperação entre profissionais sob pressão. Não há espaço para egos heroicos que desviem o foco da missão. O grupo debate rotas, discute munição, repara armas no limite do possível. Faltam frases memoráveis porque as falas servem à tomada de decisão. Essa opção reduz a lembrança de nomes e históricos, mas aumenta a credibilidade do funcionamento coletivo. O espectador acompanha uma equipe que tenta fechar lacunas em ambiente hostil, e essa atenção ao trabalho miúdo fornece o eixo emocional do filme.

Se há limitações, elas estão na ausência de maior densidade social e nas poucas pausas para observar o entorno além da urgência operacional. A presença do cartel é constante, mas o retrato das comunidades afetadas pelo conflito aparece apenas de passagem. Ainda assim, a escolha por concentrar o ponto de vista nos profissionais perseguidos mantém o recorte consistente e impede dispersão. O interesse não diminui porque a perseguição impõe novas decisões a cada esquina, e a ameaça, sempre mais perto, muda as prioridades sem recorrer a reviravoltas artificiais.

“Contra-Ataque” oferece um retrato direto de ação tática em terreno adverso, sustentado por clareza espacial, atenção ao som e atuações contidas. A direção de Chava Cartas se mantém fiel à proposta de eficiência e foco, e a dupla Luis Alberti–Noé Hernández dá rosto a um conflito em que cada erro pesa. A produção confirma que é possível competir com padrões globais de ação sem inflar duração ou efeitos. A consequência é um filme que valoriza o entendimento do risco, preserva a lógica de cada passo e encerra com o eco de decisões que continuam cobrando preço depois da última troca de tiros.

Filme: Contra-Ataque
Diretor: Chava Cartas
Ano: 2025
Gênero: Ação/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★