Ser fã de monstros gigantes é viver uma contradição deliciosa: a gente quer destruição em escala absurda, mas exige coerência emocional no meio do caos. “Godzilla x Kong: O Novo Império” entende esse paradoxo e tenta equilibrar a pancadaria colossal com pitadas de drama humano. O problema é que, no processo, o filme às vezes esquece o que o público realmente quer ver: monstros metendo o pé em prédios, não cientistas discutindo protocolos. Ainda assim, há energia, estilo e uma dose generosa de nostalgia que tornam a experiência, no mínimo, divertida.
Diferente do filme anterior, que abraçava o exagero com prazer quase infantil, aqui Adam Wingard parece querer provar que dá pra contar uma história “séria” dentro do Monsterverse. O resultado é um começo arrastado, cheio de conversas que ninguém pediu e uma introdução demorada até que a trama realmente engrene. Quando finalmente descemos à Terra Oca, o lar subterrâneo dos Titãs, o filme encontra o próprio ritmo. As criaturas ganham espaço, a mitologia se expande e o público lembra o motivo pelo qual comprou o ingresso: assistir à realeza dos monstros fazendo o que sabem fazer de melhor: brigar como se o planeta fosse um ringue.
Kong continua sendo o coração do filme. É ele quem carrega a história nas costas, literalmente e emocionalmente. Há uma tentativa honesta de humanizá-lo, de fazer o público sentir empatia por um ser que, no fundo, só quer um lar. Já Godzilla funciona quase como uma força da natureza: aparece quando o bicho pega e sai quando o serviço está feito. A dinâmica entre os dois é o que dá vida à narrativa, mesmo que a história insista em forçar conexões humanas que pouco acrescentam. Os personagens de carne e osso seguem como o ponto mais fraco, mas pelo menos não atrapalham tanto quanto antes.
Quando o filme enfim libera o caos, é puro êxtase visual. A sequência de luta na Terra Oca é inventiva, com a gravidade pirando e os enquadramentos desafiando qualquer lógica. E o clímax no Rio de Janeiro é puro delírio: colorido, barulhento e absurdamente divertido, do jeito que um bom kaiju movie deve ser. O uso das cores, a trilha sonora cheia de sintetizadores e o toque retrô no visual remetem diretamente à era Showa, um aceno carinhoso aos fãs mais antigos.
Tecnicamente, o longa é impecável. Os efeitos visuais são impressionantes. Cada soco, rugido e destruição parecem ter peso real. O dinheiro, dessa vez, está na tela. E a direção de Wingard sabe como filmar monstros com clareza, sem a névoa digital ou o caos visual que costuma acompanhar produções do tipo. Há estilo, humor pontual e ritmo suficiente para segurar a atenção mesmo quando o roteiro patina.
Mas é impossível ignorar o que falta: uma boa história. O enredo segue previsível, com diálogos funcionais e personagens esquecíveis. O filme quer ser mais do que é, mas seu brilho vem justamente do contrário: do absurdo, do espetáculo, da falta de pudor em ser o que é: um show de pancadaria titânica. Quando Wingard se entrega totalmente a isso, o filme brilha; quando tenta ser profundo, perde força.
“Godzilla x Kong: O Novo Império” é aquele tipo de filme que você assiste com um sorriso bobo no rosto. Não vai mudar sua vida, mas entrega duas horas de destruição criativa e puro entretenimento. Os fãs de kaijus saem satisfeitos, os críticos saem divididos e o público casual sai pensando que talvez o cinema ainda tenha espaço para esse tipo de loucura. E quer saber? Ainda bem.
★★★★★★★★★★