Passou batido por todo mundo, mas é uma obra-prima escondida na Netflix Divulgação / A24

Passou batido por todo mundo, mas é uma obra-prima escondida na Netflix

Uma equipe de repórteres decide cruzar um país em fraturas para alcançar a capital antes que a tomada militar encerre qualquer chance de ouvir o líder no poder. Em “Guerra Civil”, Alex Garland dirige Kirsten Dunst, Wagner Moura e Cailee Spaeny em uma cobertura que transforma o ato de registrar em objetivo de sobrevivência. O plano do grupo é simples porque depende de velocidade e discrição, porém a estrada impõe bloqueios que complicam rotas e prazos. A motivação central é obter acesso e prova documental, enquanto milícias, checkpoints e cidades esvaziadas elevam o risco. Cada parada redefine o foco, encurtando o tempo disponível e testando os limites éticos do registro.

Antes de partirem, a repórter veterana precisa decidir se aceita levar a fotógrafa iniciante. A escolha nasce do desejo de formar alguém e da percepção de que imagens adicionais podem abrir portas, mas esbarra na inexperiência da jovem e na responsabilidade de mantê-la viva. O primeiro trecho, em vias relativamente seguras, sustenta o objetivo de avançar rápido; no entanto, estradas secundárias revelam sinais de pilhagem e ausência de autoridades. O efeito imediato é a mudança de ritmo, com deslocamentos mais cautelosos e paradas breves que encarecem cada quilômetro. Se essa companhia promete cobertura mais completa, também duplica o risco e introduz tempos diferentes de reação diante do perigo.

Quando o trajeto encontra o primeiro bloqueio armado, o grupo precisa decidir entre negociar passagem ou recuar e perder horas preciosas. A motivação continua sendo chegar à capital a tempo de entrevistar quem ainda comanda, enquanto o obstáculo é a arbitrariedade de quem controla a barreira. “Que tipo de americano você é?”, diz um homem de uniforme improvisado na abordagem à beira da estrada, e a pergunta desloca o objetivo do registro para a autopreservação imediata, comprovada pela rendição temporária das câmeras e pela busca por documentos. O efeito sobre o tempo é brutal, pois a negociação estica minutos que deveriam ser usados em deslocamento e aumenta a possibilidade de novas revistas adiante.

Enquanto abastecem em uma cidade parcialmente ativa, a equipe decide fotografar marcas da guerra para compor o dossiê que justificará a entrevista final. A motivação é fortalecer o portfólio de evidências, mas moradores desconfiados e tiros ao longe criam um cerco invisível. O som em primeiro plano expõe disparos que confundem direção e distância, obrigando os repórteres a encurtar o raio de ação. Assim, o objetivo de coletar material se contrai para a prioridade de sair dali antes que uma coluna armada feche as vias. O efeito imediato é a perda de um conjunto de imagens planejadas, trocadas por um deslocamento apressado que consome o combustível previsto para o trecho seguinte.

Depois de um encontro com combatentes que patrulham uma ponte estratégica, a equipe precisa optar entre a rota mais curta, tomada por tropas em avanço, e um desvio que adiciona horas ao percurso. A motivação para arriscar a rota curta é o anúncio de que a operação contra a capital começará em breve, o que ameaça tornar inútil qualquer entrevista. O obstáculo é a chance real de ficar entre duas frentes. Um plano longo acompanha a travessia da ponte, concentrando o tempo real e expondo olhares e mãos que os cercam, o que intensifica a percepção de que cada passo pode encerrar a missão. O efeito é a compressão do relógio interno, agora ditado por outros.

Se a veterana mantém o foco na meta jornalística, a novata passa a decidir por quando fotografar e quando guardar a câmera. A motivação de aprender cede espaço à necessidade de medir cada exposição pública, enquanto o obstáculo é a própria ansiedade diante de cenas que pedem registro. Ao optar por não disparar em determinada escaramuça, ela preserva a rota, evita chamar atenção e protege o carro, mas reduz o material que justificaria o encontro final. Por isso, o objetivo se reconfigura a cada curva, com negociações internas que consomem tempo e geram um mapa de prioridades em constante revisão.

À medida que se aproximam do perímetro da capital, o grupo se depara com prédios abandonados e colunas que avançam rumo a um centro de poder prestes a ruir. A decisão mais difícil recai sobre dividir a equipe para multiplicar chances de acesso. A motivação é clara, pois duas entradas distintas aumentariam a probabilidade de alguém chegar ao círculo decisório. O obstáculo é o risco extremo de perder contato e permanecer isolado sem apoio. O que está em jogo é a vida de cada um e a própria razão da viagem. A escolha coloca uma integrante diante de um corredor de fogo, cuja consequência imediata é o desaparecimento visual dos colegas e um salto de incerteza.

Por isso, a necessidade de registrar sem interrupção pesa contra a urgência de recuar quando as ruas da capital cedem ao combate. A decisão final do trecho é avançar até onde for possível para fixar imagens de valor público, motivada pela promessa de que um porta-voz ainda poderia abrir a porta certa. O obstáculo é a multiplicação de ordens contraditórias e linhas de tiro imprevisíveis que estouram o planejamento. O efeito sobre o objetivo é um encurtamento absoluto do horizonte, reduzido a metros e minutos. Após cada escolha, a consequência se mede em sobrevivência imediata e em fragmentos de registro que podem sustentar, mais adiante, a cobrança por responsabilidades.

Filme: Guerra Civil
Diretor: Alex Garland
Ano: 2024
Gênero: Ação/Thriller
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★