Há quem procure filmes que provoquem, outros que surpreendam, e alguns que apenas escapem da previsibilidade. A Revista Bula encontrou no catálogo da HBO Max histórias que não se contentam em entreter, mas que exploram o potencial do cinema como experiência, ora caótica, ora sensível, sempre desafiando o olhar do espectador. Esses filmes têm coragem em abraçar o inesperado. Alguns exploram o amor de forma nada convencional, revelando como o desejo e o poder moldam as relações humanas; outros testam os limites do corpo e da mente diante de situações extremas. Há ainda histórias em que o cotidiano se transforma em metáfora, e personagens comuns enfrentam o imprevisível com uma mistura de ingenuidade e desespero.
Assistir a esses cinco filmes é cair em um mosaico de experiências narrativas que desafiam o formato tradicional do cinema comercial. Eles oferecem novos olhares sobre temas antigos: o amor, o medo, o tempo, a morte, e transformam o inusitado em ferramenta de reflexão. São histórias que escapam dos rótulos e convidam o público a aceitar o risco do imprevisível. Hoje em dia, com tantas repetições e fórmulas seguras, encontrar o “diferente” pode ser justamente o que renova nossa relação com o cinema: a chance de se perder, por algumas horas, em um território onde tudo pode acontecer.

Lucy é uma casamenteira que trabalha para uma empresa sofisticada de encontros em Nova York, especializada em unir pessoas segundo critérios meticulosos como status, estética e compatibilidade material. A partir de um casamento que ela organiza, reencontra seu ex-namorado, que agora vive uma vida mais modesta, enquanto conhece um homem rico e bem-sucedido que controla seu próprio destino. Dividida entre o conforto oferecido por um e a intimidade genuína trazida pelo outro, Lucy precisa confrontar sua crença de que o amor pode ser “montado” como um produto ideal. À medida que tenta equilibrar exigências do mercado amoroso e desejos íntimos, ela descobre que perfis, promessas e aparências podem ser ilusórios, e que o caos emocional muitas vezes é a única realidade que resta.

Décadas após um surto viral devastador, um pequeno grupo de sobreviventes habita uma ilha isolada, em uma sociedade que tenta manter-se protegida de infecções externas. Quando um dos habitantes parte em missão rumo ao continente em busca de recursos e respostas, ele descobre segredos que abalam a estabilidade do refúgio: mutações do vírus, conflitos internos e ameaças nas sombras. Ao retornar, ele leva consigo não só insumos, mas também paranoia e desconfiança. Relações que pareciam coesas começam a ruir sob o peso de revelações e traições. Diante de confrontos entre sobreviventes e infectados, antigos laços são testados, o medo ressurgido força escolhas drásticas, e a linha entre humanidade e monstro se perde. A evolução do vírus espelha a degradação das alianças, quem sobreviveu não sabe mais em quem confiar.

Dois bebês nascem no mesmo hospital no dia de Ano Novo, com apenas um minuto de diferença, um destino curioso que marca suas vidas desde o começo. Minnie sempre acreditou que Quinn, nascido primeiro, teria roubado a sorte que era dela: ela se sente marcada por azar e por um passado de expectativas não cumpridas; ele construiu uma vida mais estável, ainda que distante dela. Décadas depois, seus caminhos se cruzam numa festa de Réveillon, e juntos descobrem que suas histórias estão entrelaçadas por coincidências e ressentimentos antigos. Ao reencontrarem-se, enfrentam incertezas, mágoas e esperanças adormecidas, na tentativa de decidir se vale a pena apostar no que poderia ter sido, ou ser, entre eles. A narrativa joga com a ideia de destino e de segundas chances, enquanto Minnie e Quinn tentam superar o peso das falhas pessoais para abraçar uma possível união.

Um grupo de amigos de infância mantém, há décadas, a tradição de jogar um elaborado pega-pega durante um mês por ano: regras rígidas, contratos informais e estratégias que exigem viagens, disfarces e planejamento quase militar. O único que ainda não foi alcançado é Jerry, cuja habilidade virou mito entre o grupo; quando ele anuncia que pretende “encerrar a carreira” por causa do casamento, os demais veem na temporada final uma última oportunidade de se reconectar e de provar lealdade. Hoagie, um dos organizadores, convoca velhos companheiros para uma última tentativa, e revela que suas motivações pessoais não são apenas lúdicas: há um problema de saúde que transforma a brincadeira em um ritual de afirmação da amizade. Entre perseguições improvisadas, falhas cômicas e gestos extremos, o jogo expõe as tensões da vida adulta, casamentos, ressentimentos e decisões, e culmina numa sequência em que bravata, perigo e afeto se confundem, mostrando que o que começou como uma travessura infantil virou um código de pertencimento e cura para o grupo.

Num contexto marcado por disparidades sociais e crises políticas, um advogado idealista ascende como nova força carismática ao disputar poder público. Sua eloquência conquista apoio nas camadas mais pobres, mas sua trajetória política atrai olhares críticos de jornalistas e opositores que questionam suas intenções. Um repórter investigativo, inicialmente admirado por sua ascensão, passa a escavar suas promessas e compromissos não cumpridos, revelando tramas de corrupção, alianças escusas e compromissos que se corroem sob o peso da ambição. À medida que o poder se consolida, o idealismo esfarela-se: traições e pactos sombrios emergem, e o protagonista confronta a própria identidade, se tornou aquilo que prometeu combater? A desilusão política se reflete no desgaste moral de todos os envolvidos, e o triunfo se mostra, afinal, uma farsa construída sobre ilusões.