O filme de ação mais assistido da atualidade está no Prime Video — não perca a experiência Jasin Boland / Prime

O filme de ação mais assistido da atualidade está no Prime Video — não perca a experiência

Cobra criada do mundinho fechado de Hollywood, Shane Black ficou milionário aos 26 anos depois de ter obtido a chancela de público e da crítica especializada com o roteiro de “Máquina Mortífera” (1987), dirigido por Richard Donner (1930-2021). Em “Dois Caras Legais” (2016), o roteirista passou à ambivalente condição de diretor e parecia muito à vontade para fustigar os tantos chavões de enredos que se repetem à náusea, elaborando um dos trabalhos mais criativos que a indústria cinematográfica cuja sede fica naquele distrito de Los Angeles já produziu. Lamentavelmente, em “Jogo Sujo” Black faz concessões demais à diversão fácil, o que resulta num filme banal, pasteurizado, esquecível. Black e os corroteiristas Anthony Bagarozzi e Chuck Mondry tentam fazer uma compilação das aventuras protagonizadas por Parker, o anti-herói dos romances policiais escritos por Donald E. Westlake (1933-2008) sob o pseudônimo de Richard Stark. Conseguem, no máximo, oferecer um entretenimento passageiro àqueles que não dispensam as reviravoltas de um crime ousado.

A despeito dos 128 minutos, talvez o maior problema de “Jogo Sujo” seja querer abarcar assuntos demais. Parker é um sujeito ácido, calculista, diabolicamente cínico, mas o diretor não o aproveita como deveria, preferindo fixar-se no óbvio. Ele lidera um assalto cheio de riscos a mando de uma organização criminosa cujo alcance vai sendo detalhado ao longo do enredo, e sua experiência é um ativo precioso para que tudo corra segundo o planejado. Quando Parker e seus subalternos já estão em posse do butim, um aventureiro tenta investir contra eles, o que dá azo à melhor sequência do filme, durante a qual esse gângster incomum sai correndo atrás do usurpador, perseguido por um jóquei onde ocorre uma competição. Ele recupera o dinheiro, mas, curiosamente, não é capaz de prever a traição de um membro da quadrilha, e terá a cabeça a prêmio até que capture quem ameaça sua fama e sua vida, ocasião propícia para surgirem tipos secundários que roubam a cena, inclusive Zen, a fonte de toda desgraça do antes inatingível Parker.

Black parte dessa premissa para uma subtrama ambiciosa sobre um golpe de Estado no país da América Latina, financiado pelos trezentos milhões de dólares de uma outra ação comandada por Parker. Não por acaso, guerrilheiros estão infiltrados junto a malfeitores de todos os tamanhos, e, evidentemente, esse é o gancho usado pelo diretor para esmiuçar a figura de Zen, uma máquina destruidora que se prontifica a tudo para libertar sua pátria. Um dos méritos de Black é saber iluminar esses personagens nebulosos, e felizmente isso se realiza com Rosa Salazar, quase sempre magnética tanto nas passagens analíticas como nos lances mais movimentados. Ao descobrir a essência bestial de Zen, é ela quem dá a tônica de um filme tumultuoso, visivelmente feito para ser consumido e descartado. Grofield, o lugar-tenente durão de Parker vivido por LaKeith Stanfield, complementa o trabalho de Salazar, e os dois provocam em quem assiste a impressão de que Mark Wahlberg precisa rever suas escolhas. 

Filme: Jogo Sujo
Diretor: Shane Black 
Ano: 2025
Gênero: Ação/Suspense
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.