O filmes de terror, ultimamente, têm vivido tempos de reinvenção, abandonando os jump scares para mergulhar nas zonas profundas da mente humana. Monstros e espíritos são insuficientes. Agora, as narrativas falam do medo que nasce da culpa, da fé, da exclusão e do preconceito. A Revista Bula selecionou quatro obras na Netflix que mostram que o horror não vem de forças externas, mas habita no cotidiano, nas famílias, relacionamentos e até no próprio corpo.
Para assisti-los, é preciso estar pronto para atravessar um território emocional instável, onde o pavor se mistura à melancolia e onde o desespero, por vezes, se confunde com a busca por redenção. Nesses filmes, experimentamos o terror psicológico, o social, o sobrenatural e o simbólico. Todos provocam um desconforto duradouro. Não causam choques apenas momentâneos, mas proporcionam atmosferas sufocantes, silêncios inquietantes e um olhar cirúrgico sobre os limites da sanidade.
Essas produções testam a coragem emocional e a resiliência física. Transformam o pavor em experiência estética e reflexão moral. Dão a sensação de que o medo não é algo a ser superado, mas parte essencial daquilo que nos torna humanos. Quando bem construídos, serve para o iluminar o escuro: traumas de infância, opressões religiosas, relações corroídas pela culpa e estruturas sociais que sustentam a violência. Eles são arrepiantes não porque te fazem gritar, mas porque sussurram o que ninguém quer ouvir.

Durante uma noite de jogos entre amigos, uma brincadeira aparentemente inofensiva se transforma em um pesadelo psicológico. À medida que perguntas provocativas são feitas e segredos vêm à tona, os laços entre os participantes se desfazem, revelando rivalidades e traumas antigos. O jogo, inicialmente uma distração, se converte em um espelho cruel das identidades que cada um tenta esconder. O filme constrói uma tensão crescente até a ruptura final, quando o real e o simbólico se confundem, e o que está em jogo deixa de ser apenas a verdade, é a própria sanidade.

Um jovem cuidador é contratado para trabalhar em uma instituição isolada que abriga idosos com doenças neurológicas graves. À medida que os dias passam, ele começa a perceber comportamentos estranhos entre os pacientes e ruídos vindos dos corredores à noite. O local parece guardar segredos sombrios, e os limites entre realidade e delírio se tornam nebulosos. O protagonista descobre que a casa é mais do que um abrigo, é um lugar onde o passado se recusa a morrer. A loucura e o medo se entrelaçam, revelando que algumas memórias são perigosas demais para serem esquecidas.

Após um aborto traumático, um casal decide adotar dois irmãos gêmeos criados em um convento. No início, a doçura das crianças parece restaurar a harmonia do lar, mas a fé cega e o comportamento inquietante dos pequenos logo transformam a casa em um território de tensão e mistério. Quando eventos estranhos começam a ocorrer, a mãe passa a questionar a fronteira entre religiosidade e fanatismo. A pureza dos irmãos se revela ambígua, e a devoção se converte em terror, mostrando que a fé, quando levada ao extremo, pode ser mais assustadora do que qualquer presença sobrenatural.

Um grupo de amigos se reúne em uma cabana para celebrar o feriado, mas o reencontro ganha contornos macabros quando eles descobrem um jogo misterioso que exige decisões de vida ou morte. À medida que a noite avança, cada um é forçado a confrontar seus medos, preconceitos e segredos. Misturando humor ácido e crítica social, o enredo transforma os clichês do terror em comentários afiados sobre racismo, amizade e sobrevivência. A sátira se mistura ao pavor, e o riso nervoso se torna o único refúgio diante do horror.