Os 10 faroestes mais importantes da história do cinema

Os 10 faroestes mais importantes da história do cinema

O faroeste é um dos gêneros mais apaixonantes do cinema. Ele não apenas consolidou a linguagem cinematográfica, como também ajudou a moldar a identidade cultural do cinema americano, projetando-se como um símbolo de aventura, conflito e transformação social. Ao longo de décadas, o faroeste foi capaz de reinventar-se, acompanhando transformações políticas e estéticas, tornando-se referência obrigatória para qualquer estudo sobre a evolução da narrativa cinematográfica. Desde o início do século 20, produções de doze minutos como “O Grande Roubo do Trem” (1903), de Edwin S. Porter (1840-1941), quase artesanal numa era de tecnologia copiosa, estabeleceram o western como uma das formas mais autênticas de se fazer um filme. A simplicidade do enredo — um assalto a trem seguido por perseguições e tiroteios sem fim — já trazia os elementos que seriam a marca registrada dessas histórias: o confronto entre a lei e o crime, a paisagem materializando a ideia de uma existência difícil e o herói que, esperava-se, recomporia a ordem em meio ao caos. O pioneirismo do diretor abriu os olhos de cineastas e do público para quanta diferença podem fazer detalhes como a edição, capaz de definir o ritmo do que é contado.

Durante as décadas de 1930 e 1940, o faroeste foi o gênero mais popular de Hollywood. Obras como “No Tempo das Diligências” (1939), de John Ford (1894-1973), elevaram o western a um padrão inédito de sofisticação artística com seus personagens complexos e dilemas morais que iam além do que se podia ver. Nesse período, o faroeste deixou de ser apenas entretenimento e passou a ser uma metáfora do processo de invenção do povo americano, com a conquista do território, embates contra o “desconhecido” e a luta entre progresso e barbárie. A amplitude dos cenários do Oeste, com seus desertos e montanhas, também virou um personagem, simbolizando o perigo diante da urgência de ser livre. O valor do faroeste também está no seu papel como laboratório estético. Foi a partir dele que diretores desenvolveram técnicas de enquadramento, profundidade de campo e uso da panorâmica, recursos que seriam assimilados por outros gêneros. Howard Hawks (1896-1977) e Anthony Mann (1906-1967) exploraram a composição visual de maneira sublime, transformando o western em um gênero de estudo obrigatório para quem chegou depois. A simetria entre tempo e espaço, assim como o uso das cores no tecnicolor em filmes como “Paixão dos Fortes” (1946), de Ford, ajudaram a alargar as possibilidades de expressão do cinema.

Mesmo com a perda de popularidade, o faroeste nunca desapareceu. Ele manteve-se vivo em releituras modernas, a exemplo de “Os Imperdoáveis” (1992), de Clint Eastwood, que revisitou o mito do pistoleiro sob uma ótica mais soturna e realista. Filmes contemporâneos, como “O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford” (2007), levado à tela por Andrew Dominik, ou “Ataque dos Cães” (2021), de Jane Campion, vencedora do Oscar de Melhor Direção, mostram como o gênero continua a ser relevante para debater assuntos como violência, masculinidade tóxica e a perene fragilidade do indivíduo. Ademais, o western influenciou indiretamente a ficção científica — basta lembrar que a franquia “Star Wars” nada mais é que um faroeste nas estrelas, com duelos, caçadores de recompensas e fronteiras a serem conquistadas. Sua importância para o cinema está na louvável capacidade de unir tradição e arrojo. Mais do que um gênero, o western é uma lente por meio da qual o cinema ilumina questões universais de poder, justiça, vingança e busca por identidade. A seleção que fizemos mescla os grandes sucessos do faroeste em épocas distintas. Figuram neste brevíssimo compêndio, além de “No Tempo das Diligências” e “Os Imperdoáveis, mais oito títulos, com destaque para John Ford, que assina outros dois longas. Lembranças de um cinema talvez mais bruto, porém decerto muito mais autêntico.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.