A arte sempre foi um espaço confortável para o insólito, mas, no cinema, há obras que mesmo assim causam algum tipo de estranhamento e cruzam a fronteira do excêntrico, deixando até os cinéfilos mais experientes um pouco desorientados. Essas histórias narradas através de frames deformam a realidade e coloca o espectador em um quebra-cabeça de 10 mil peças sem manual. A Revista Bula fez uma visitinha às prateleiras da Netflix para buscar filmes que parecem pregar peça na lógica. Qualquer amante de sétima arte, em algum momento dessas histórias, vai se perguntar se está mesmo vendo um filme ou se tomou ácido e agora está em uma alucinação perturbadora.
Esses títulos dividem um traço comum: são experiências mais que histórias lineares. O esquisito não é apenas estético, mas uma ferramenta de exploração do medo, dos transtornos e obsessões humanas. Em uma das tramas, o universo e invadido por forças obscuras, transformando telas e esculturas como instrumentos de morte. Em outra, uma viagem curta de carro se dilata e se transforma em um mergulho na memória e identidade, enfiando o espectador em um labirinto psicológico. E em outra, acompanhamos a vida como se fosse uma performance épica, confundindo o real e o imaginário.
”Ah, que legal! Algo diferente de tudo que já vi”, você deve estar dizendo a si mesmo. Bem, sim. Mas não pense que são títulos fáceis de assistir. Pelo contrário, eles desafiam a clareza, caçoam da linearidade e criam sua própria linguagem. Quem ousa assistí-los precisa abrir mão das certezas absolutas. O estranhamento e a surpresa fazem parte da jornada. A recompensa, no entanto, é conseguir olhar o cinema com novos olhos: como um espaço onde o bizarro e o sublime coexistem.

Um jornalista e documentarista mexicano retorna ao seu país após anos vivendo no exterior. Reconhecido internacionalmente, mas em crise pessoal e profissional, ele se vê dividido entre orgulho e culpa, entre a grandeza de sua carreira e a fragilidade de suas memórias. Sua jornada é apresentada como um espetáculo surreal, em que momentos íntimos se fundem com acontecimentos históricos, delírios e imagens grandiosas. A narrativa alterna festas, entrevistas, memórias de infância e reflexões existenciais, sempre embaralhando realidade e imaginação. A cada cena, sua busca por identidade e sentido se torna mais confusa, como se sua vida inteira fosse um filme encenado para ele mesmo assistir.

Uma jovem viaja de carro com o namorado para conhecer os pais dele em uma fazenda isolada. Durante o trajeto, sua mente é tomada por pensamentos de dúvida sobre o relacionamento, sobre si mesma e sobre o sentido da vida. Ao chegar à casa, o jantar com os sogros se revela estranho: o tempo parece se fragmentar, as idades dos personagens mudam, os diálogos soam desconexos. A viagem de volta, sob uma tempestade de neve, aprofunda a sensação de aprisionamento em uma realidade instável. Entre lembranças, sonhos e símbolos enigmáticos, a protagonista mergulha em um fluxo narrativo que mistura identidade, tempo e morte em um mesmo turbilhão.

Um grupo de críticos, curadores e colecionadores de arte se depara com um conjunto de pinturas descobertas em circunstâncias misteriosas. As obras, carregadas de uma energia estranha, começam a exercer influência sobrenatural sobre todos que se aproximam delas. À medida que as peças são comercializadas e expostas, mortes violentas e inexplicáveis acontecem, sempre conectadas às criações. Os personagens, movidos por ganância e vaidade, enfrentam um terror que parece emergir da própria relação entre arte e consumo. O ambiente sofisticado das galerias se transforma em um palco de pesadelo, onde cada escultura ou quadro pode ser uma armadilha fatal.