Com menos de duas horas de voo, é possível chegar de Buenos Aires, a capital portenha, até Mendoza, província que abriga parte argentina da pitoresca Cordilheira dos Andes. Em 2018, quando fui a Santiago do Chile, meus olhos brilharam diante da extensa pintura em 360° da cadeia de montanhas que circunda o horizonte da capital. A visão belíssima se torna ainda mais exuberante conforme se avança em meio às cordilheiras, testemunhando as cores vibrantes de suas rochas, os lagos cristalinos e as estradas que serpenteiam em meio à perfeição da natureza.
Na Argentina, embora a visão não seja 360°, parece ainda mais bonita conforme se aproxima do Aconcágua, a montanha mais alta da cadeia e que virou cenário de um dos filmes mais marcantes da carreira de Brad Pitt, “Sete Anos no Tibet”. E confesso que, embora eu seja apaixonada por cinematografia, nunca me ocorrera que as gravações tivessem sido realizadas tão perto do nosso próprio país, aqui, na América do Sul. A razão para que o local fosse usado para a produção é política: uma pressão do governo chinês, que foi contra a imagem positiva de Dalai Lama exibida no enredo, impediu que as filmagens fossem realizadas no Tibet e na Índia, forçando o diretor Jean-Jacques Annaud a procurar locações similares.
O Vale de Uspallata, ali nos arredores de Mendoza, na pré-cordilheira, foi escolhido como principal cenário para recriar o Tibet devido à paisagem árida que é bastante parecida com a do Himalaia. Em uma altitude de até 2.500 metros, a produção levou cerca de 350 profissionais, entre equipe técnica e elenco, além de outros 10 mil contratados como figurantes para tornar possível a execução do filme.




Acompanhada do meu marido e do meu filho de 4 anos, além de um simpático guia francês residente em Mendoza, chamado Tim, subimos as montanhas até o Aconcágua, e ele fez questão de nos mostrar locais de gravação e até um café que também serviu de cenário para o filme. Um trabalhador do local nos mostrou objetos decorativos que foram utilizados nas gravações, como um Buda de cerca de 80 cm e chapéus cerimoniais tibetanos que ficaram pendurados como decoração no teto. Fotografias de Brad Pitt ali, no mesmo café, exibem com orgulho a história de uma cidade que marcou o cinema contemporâneo, na obra de um dos maiores cineastas da atualidade. A estação ferroviária, montanhas e rochas, e o próprio cenário desértico de Uspallata pintaram as telas de “Sete Anos no Tibet”, mas a emoção de visitar os locais de gravação do filme vai muito além de mera admiração à indústria cinematográfica. O santuário natural rochoso, que abriga até mesmo um centro de meditação, é o local perfeito para recarregar as energias.


A cadeia montanhosa é de encher os olhos. Os rios Horcones, Mendoza e Vacas, nesta época do ano, possuem uma água cristalina e vibrante que parece saída de uma pintura de Monet. Ali, na região que faz fronteira com o Chile, chegamos a mais de 6 mil metros de altitude e, sem dúvidas, a energia nos faz sentir mais próximos de Deus, do universo e de qualquer entidade em que se deposite fé. Sem dúvidas, estar ali por algumas horas da minha vida parece ter sido uma sorte daquelas. No inverno, que já não é mais tão rigoroso, ainda há neve cujo degelo abastece Mendoza. Se você nunca foi por lá, precisa conhecer esse paraíso na Terra que virou cenário de filme hollywoodiano.