A história nem sempre precisa de páginas para ser compreendida, às vezes, ela ganha vida no cinema com uma força que nenhuma cronologia escolar consegue transmitir. Entre diálogos afiados, imagens grandiosas e interpretações marcantes, certos filmes conseguem condensar décadas de acontecimentos em duas horas sem sacrificar a complexidade dos fatos. Mais do que simples entretenimento, eles funcionam como portas de entrada para entender o mundo: suas guerras, suas decisões políticas, suas injustiças e seus silêncios. E, sim, sem precisar abrir um livro, ao menos no primeiro momento.
Na Netflix, há títulos que não apenas dramatizam episódios históricos, mas os colocam sob novas luzes. O que está em jogo não é apenas o que aconteceu, mas como aconteceu, e o que ainda reverbera nos dias de hoje. De discursos que salvaram nações a planos secretos que enganaram exércitos inteiros, de catástrofes morais a dilemas éticos no calor da guerra, os filmes desta lista não entregam respostas fáceis nem narrativas didáticas. Eles envolvem, incomodam, provocam. Ao final, é bem provável que você queira pesquisar mais, ou até, quem sabe, abrir um livro por vontade própria.
Os cinco títulos que reunimos aqui tratam de momentos cruciais do século 20, com foco especial nas duas guerras mundiais, nas suas consequências e nas figuras históricas que mudaram os rumos da humanidade. Seja o primeiro-ministro britânico diante da ameaça nazista, o cientista dividido entre genialidade e destruição, ou o funcionário público tentando calcular o valor de vidas perdidas no 11 de setembro, todos esses filmes mostram que a história é feita de decisões humanas, e por isso mesmo, é tão trágica quanto fascinante. Prepare-se para aprender sem perceber, emocionar-se com o passado e, quem sabe, entender um pouco melhor o presente.

A Segunda Guerra Mundial é retratada a partir de uma perspectiva inusitada: Rudolf Höss, comandante de Auschwitz, vive com sua família em uma casa com jardim, paredes finas e aparente tranquilidade, tudo isso colado ao campo de extermínio. Inspirado no romance de Martin Amis, Caminhos da Sobrevivência não mostra diretamente o horror do Holocausto, mas o insinua a cada cena. A brutalidade está nos ruídos abafados, na poeira invisível, na frieza com que os personagens ignoram o genocídio ao lado. O filme é um experimento desconfortável sobre banalidade do mal, negação e silêncio cúmplice. Um retrato assombroso da psicologia nazista, onde a normalidade é o cenário mais aterrorizante. Difícil, necessário, e impossível de esquecer.

J. Robert Oppenheimer, físico brilhante e ambíguo, lidera o Projeto Manhattan e constrói a bomba atômica, a arma que mudaria para sempre a lógica da guerra e da existência humana. Alternando tempos e tons, Christopher Nolan mergulha na mente de um homem que foi celebrado como herói e depois descartado como ameaça, traindo os próprios princípios. A narrativa densa, fragmentada e hipnótica não simplifica os fatos: mostra a ciência como campo de batalha moral, e a história como um espelho partido. Oppenheimer não oferece alívio, nem julgamento fácil. É uma biografia que funciona como tratado sobre poder, culpa e o preço da inteligência. Ao fim, o que explode não é apenas a bomba, mas a ideia de que ciência e ética possam um dia caminhar em paz.

Em 1943, os Aliados elaboram um plano inusitado para enganar os nazistas: largar um cadáver no mar com documentos falsos que apontem para uma invasão em local estratégico errado. Baseado em uma história real e bizarra, O Soldado Que Não Existiu revela os bastidores da espionagem britânica com humor seco, tensão crescente e reviravoltas discretas. Mais do que uma missão de guerra, o plano é uma montagem teatral, onde cada detalhe, desde as cartas de amor até os papéis de identidade, precisa ser perfeito. É o tipo de história que só poderia ser real porque é absurda demais para ser inventada. O filme nos lembra que a guerra não é feita apenas no campo de batalha, mas também na mente, com mentiras bem contadas e ficções capazes de salvar milhares de vidas.

Após os atentados de 11 de setembro, o advogado Kenneth Feinberg é designado para liderar o fundo de compensação às vítimas. Sua missão: atribuir valores financeiros a vidas perdidas. À medida que analisa os casos e enfrenta familiares devastados, ele percebe que a matemática jurídica entra em choque direto com o peso humano do luto. Quanto Vale? é um drama sóbrio, baseado em fatos reais, que levanta uma questão incômoda: é possível quantificar uma vida? E mais — quem decide o que vale mais? Sem apelar para sentimentalismo fácil, o filme conduz o espectador por uma série de dilemas éticos e administrativos que revelam como, mesmo diante de tragédias imensuráveis, o sistema tenta seguir fórmulas. E fracassa.

Em plena Segunda Guerra Mundial, com a Europa sendo tomada pelo avanço nazista, o Reino Unido enfrenta uma escolha vital: negociar com Hitler ou resistir até o fim. No centro desse dilema está Winston Churchill, recém-nomeado primeiro-ministro e alvo de desconfiança dentro do próprio governo. Com discursos inflamados e decisões arriscadas, ele precisa unir uma nação mergulhada no medo, e fazer história diante do colapso iminente. O Destino de uma Nação não é apenas uma biografia política, mas um retrato pungente do poder da retórica e da solidão do comando. Gary Oldman, irreconhecível, encarna um Churchill imperfeito, oscilando entre teimosia e genialidade. O filme nos lembra que a coragem política nem sempre nasce da convicção, mas da pressão desesperada de não haver outra saída.