8 livros que recusam-se a terminar, mesmo depois do ponto final

8 livros que recusam-se a terminar, mesmo depois do ponto final

Há livros que nos acompanham como fantasmas. Encerramos a leitura, fechamos o volume, mas o enredo permanece latejando em alguma parte da consciência, como uma chaga. Por que certas obras parecem recusar o fim? A resposta não é simples, pois envolve a profundidade emocional que os livros são capazes de gerar, quão densas podem ser suas imagens, a identificação do leitor com os personagens e, o principal, a verdade bastante particular da narrativa, a verdade inventada. Esses livros, mágicos para cada um, fazem alguma revelação talvez óbvia, para a qual, por motivos insondáveis, não havíamos atentado. Sem a obrigação de dar respostas — e, ao contrário, fomentando mais perguntas, mais e mais incômodas —, adicionam outra dose de balbúrdia ao caos que rege a alma humana, preparando quem os desbrava para a mudança.

Livros têm o poder de transformar porque são, antes de tudo, uma travessia silenciosa pela vida de outro. Ao pousar os olhos sobre suas páginas, somos convidados a sair de nós mesmos, chorar outras dores, trocar a realidade pela fantasia e o mal pelo bem. Não há leitura que não nos toque de algum modo e, ainda que resistamos, um turbilhão sacode-nos com força. Um livro pode ser o espelho que esfrega-nos na cara aquilo que somos, malgrado não gostemos, e esse movimento acaba por nos empurrar para um mundo que não sabíamos existir. Para chegar-se à iluminação dos livros há que se buscar a treva mais silenciosa e profunda, como a semente, que refugia-se no seio da terra antes de germinar e dar fruto. Convicções são abaladas, fronteiras expandem-se, medos se desvanecem. Quem se abre para os livros flerta com o sagrado.

Obras como “O Estrangeiro”, de Albert Camus (1913-1960), “O Processo” (1925), de Franz Kafka (1883-1924), ou “Grande Sertão: Veredas” (1956), de João Guimarães Rosa (1908-1967), seguem para muito além do desfecho das histórias que narram. O primeiro contato pode dar-se com certa fluidez, quiçá até numa estranha agilidade; contudo, ao passo que estreita-se a relação entre o que lê e o autor, mediada por aquele talismã fetichista, rompe-se o gelo e vem o choque, tirando o chão e o sossego. Na nossa lista, junto com “O Estrangeiro”, “O Processo” e “Grande Sertão: Veredas”, entram mais cinco publicações cujos enredos não abandonam o pobre infeliz que por eles se aventura. Esses livros não acabam porque, no fundo, vivem em nós.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.