7 livros filosóficos que mostram por que pensar dói — e por que a dor vale a pena

7 livros filosóficos que mostram por que pensar dói — e por que a dor vale a pena

Pensar dói — e que bom! Essa constatação, embora simples, remete a uma verdade muito mais profunda do que a maioria percebe. O pensamento não é feito apenas do que há de intelectual, neutro, frio e técnico em nós. Alcançar o outro com suas impressões mais verdadeiras, honestas, radicais até, é um ato que mexe com as nossas estruturas mais secretas. Não é por acaso que muitos evitam pensar, decerto temendo o contágio com um mundo acintosamente distinto de suas expectativas. Preferem a repetição à dúvida, o clichê à ousadia, a crença tola ao mar das possibilidades. A dor de pensar começa pelo desconforto de não aceitar o mundo tal como ele se nos revela. Quando batemos de frente com as normas, revemos hábitos, nos incomodamos com as tradições e temos a certeza de que nossos desejos são uma macaqueação inconsciente das vontades de quem nos cerca, o cristal se parte. Pensar é exatamente isso, um pacto eterno com a rebeldia, com a ruptura, não deixar-se seduzir pelos fogos de artifício da felicidade cenográfica das redes sociais e negar-se a engolir o discurso hipócrita dos poderosos. Pensar é ver-se livre da manada.

Mas pensar não é só analisar as injustiças da sociedade ou a bandalheira da política. Pensar é também, e sobretudo, encarar o caos incessante dentro de si. Perguntar-se quem se é, por que se age dessa ou daquela maneira, por que se deseja o que se deseja. É um processo infinito de autodesconstruir-se e levantar-se outra vez, o que implica abrir mão de ilusões, abraçar a controvérsia, reconhecer a própria ignorância. Pensar dói, amadurecer dói, mudar dói, e esses são dias em que o menor sinal de dor é aplacado imediatamente. As anestesias são inúmeras: séries, likes, terapias a jato, gurus motivacionais. Pratica-se a diversão sem fim porque ninguém suporta a realidade, a sua e dos demais. Os momentos de ócio que antes serviam para que se pudesse refletir acerca do que importa e do que não importa foram condenados, afinal, em um minuto tudo muda. Não há tempo para o respiro nem para o mergulho.

Na terceira década deste insano século, governos seguem a censurar livros porque sabem que aqueles que os leem podem tornar-se uma ameaça. Quem lê pensa e quem pensa é capaz de escolher com mais autonomia, de resistir com mais firmeza, de criar com mais autenticidade, de evitar a perpetuação de velhos modelos. O verdadeiro pensamento é sempre subversivo, não se contenta com as respostas prontas, não rende-se aos dogmas, não se curva ao politicamente correto ou à conveniência ideológica. A dor de pensar vale a pena, como verifica-se à larga em “O Mito de Sísifo” (1942), do argelino Albert Camus (1913-1960), e nos outros seis títulos dessa lista, publicações que, cada qual a seu modo, questionam se a vida merece ou não ser vivida. Sempre vale, e sempre valerá, mas uma vida sem pensamento é uma vida pela metade.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.