Nos últimos anos, certos livros ganharam status quase mitológico nas redes sociais, entre recomendações entusiasmadas, prêmios literários e filas em lançamentos que pareciam mais eventos de K-pop. E você, leitor de bom coração, foi lá e comprou. Leu a primeira página, achou meio pretensiosa, mas seguiu firme. Três capítulos depois, estava no Google procurando “resumo com spoilers” só pra não desperdiçar o investimento emocional, e financeiro, feito na livraria.
Não estamos falando aqui de livros ruins, no sentido puro e simples da palavra. Alguns até têm seus méritos: uma frase bem construída, uma ideia promissora, uma capa bonita (às vezes só isso mesmo). Mas existe uma diferença entre uma obra que merece o hype e outra que só foi carregada pela espuma da tendência. O leitor atento sabe: há livros que exigem esforço e entregam muito, e há os que exigem esforço só pra não abandoná-los na página 27. É como sair para um jantar e descobrir que o prato principal é uma metáfora sobre luto narrada em fluxo de consciência, e sem pontuação.
Esta lista é uma ode ao seu tempo precioso. Selecionamos cinco livros brasileiros superestimados da última década, aqueles que pareceram revolucionários, mas tropeçaram em suas próprias ambições. São obras que viraram assunto nas rodas literárias, nos Instagrams de influenciadores culturais e nos grupos de WhatsApp que tentam marcar clube do livro há seis meses. Aqui, deixamos o verniz de lado e falamos com honestidade: se você ainda não leu, talvez continue assim, e tudo bem. Nem tudo que brilha é ouro; às vezes é só uma resenha paga com muitos emojis.

Um rapaz de vinte e poucos anos tenta lidar com a morte da irmã, com quem mantinha uma relação marcada por silêncios, saudade e lacunas mal resolvidas. Para isso, ele escreve cartas endereçadas à Mônica, amiga da falecida, numa tentativa torta de elaboração do luto e de reencontro com o mundo real. A trama se constrói a partir de uma voz narrativa fragmentada, que flerta com o fluxo de consciência e aposta em uma introspecção por vezes ensimesmada demais. Entre lembranças difusas, caminhadas pelo bairro e pequenas epifanias urbanas, o texto revela mais sobre o narrador do que sobre qualquer outro personagem. A linguagem busca lirismo, mas frequentemente escorrega em afetação. O resultado é uma obra que promete intensidade emocional, mas se afoga em sua própria densidade estilística, deixando pouco espaço para o leitor respirar, ou se importar.

A narrativa acompanha um homem que parte para Buenos Aires com o objetivo de organizar os pertences deixados por uma amiga que desapareceu misteriosamente. O deslocamento físico torna-se um mergulho em um território nebuloso, onde se misturam memórias, fantasmas e a fronteira tênue entre realidade e ficção. O texto debruça-se sobre a sensação de perda e a dificuldade de compreender o outro na ausência definitiva, explorando a solidão urbana e as fragilidades emocionais. O protagonista transita entre encontros e desencontros, enquanto o leitor é convidado a questionar a veracidade dos relatos e a instabilidade das lembranças. A prosa se vale de um tom introspectivo e uma atmosfera melancólica, que simultaneamente seduz e afasta, gerando uma ambiguidade que desafia a empatia do leitor.

Sob uma fachada doméstica aparentemente tranquila, esta obra revela a dissonância brutal de um núcleo familiar abalado por eventos traumáticos. Dois irmãos aparecem com ferimentos graves, e a mãe, acusada de negligência, enfrenta o peso de suspeitas e segredos velados. A narrativa mergulha em camadas de tensão crescente, em que o ambiente familiar é palco para jogos de manipulação, mentiras e revelações desconcertantes. O autor constrói um suspense psicológico rigoroso, explorando as fragilidades humanas e os limites tênues entre amor e violência. A linguagem é precisa, ora crua, ora irônica, desenhando personagens complexos que oscilam entre vítima e carrasco. A trama conduz o leitor por um percurso imprevisível, onde a normalidade aparente desmorona diante da brutalidade oculta.

O livro expõe com vigor narrativo a violência sofrida por mulheres no interior do Ceará, entrelaçando relatos de abuso e resistência. A protagonista carrega marcas profundas do passado, permeado por relações familiares opressoras e o peso de traumas invisíveis. A escrita de Jarid Arraes combina uma poética contundente com a crueza da realidade, construindo uma voz que denuncia e se rebela. O corpo do título é ao mesmo tempo objeto de dor e instrumento de luta, um espaço onde o horror convive com a esperança tênue de transformação. A obra confronta o leitor com questões urgentes sobre gênero, violência e poder, ao mesmo tempo em que revela uma humanidade resistente, capaz de encontrar força na dor e na memória. A narrativa, densa e por vezes fragmentada, busca transcender o mero testemunho, alcançando a dimensão do manifesto.

O enredo gira em torno de um homem que descobre ter sido declarado morto oficialmente, situação que desdobra consequências burocráticas e existenciais profundas. Entre memórias fragmentadas e encontros improváveis, o protagonista enfrenta uma realidade distorcida, onde a própria identidade parece se dissolver em um limbo administrativo e emocional. O texto se aprofunda na crítica social, expondo as falhas institucionais e a alienação do indivíduo perante sistemas opressivos. A narrativa conjuga humor ácido e melancolia, propondo uma reflexão sobre a invisibilidade e o esquecimento contemporâneo. A escrita é ágil, muitas vezes irônica, articulando camadas de suspense e absurdo. O livro desafia o leitor a pensar sobre o que significa existir em um mundo onde a burocracia pode decretar o fim de uma vida sem que esta, de fato, termine.