7 leituras que substituem uma sessão de terapia (ou te mandam direto pra outra)

7 leituras que substituem uma sessão de terapia (ou te mandam direto pra outra)

Há livros que funcionam como bisturis — não porque curam, mas porque abrem. Lê-los é como deitar num divã onde o silêncio pesa mais do que qualquer fala, onde cada parágrafo escava uma camada que se queria esquecida. Não são livros terapêuticos, no sentido usual da palavra. Não oferecem conselhos, fórmulas, saídas. O que entregam é o reverso: o peso da existência, a secura do afeto, a angústia da linguagem falha.

Em “Fome”, de Knut Hamsun, o delírio de um homem faminto não é metáfora: é carne viva, pensamento em espiral, dignidade corroída por dentro. A cidade não o vê, e talvez ninguém mais o veja. Mas ele insiste em falar. Em “A Estrada”, de Cormac McCarthy, o que resta não é a esperança — é o resíduo de amor que sobrevive ao apocalipse, entre um pai e um filho sem nome. A dor ali não grita. Sussurra. E o silêncio pesa mais do que a ruína do mundo.

Borges, em “O Aleph”, propõe um abismo: e se fosse possível ver tudo ao mesmo tempo? O amor, a morte, o que passou, o que virá — e o que nunca saberemos nomear? Já “Léxico Familiar”, de Natalia Ginzburg, prova que o trauma também se herda pelo tom de voz. Pela repetição. Pelas frases ditas à mesa, dia após dia, até se tornarem chão.

Com Coetzee, em “Desonra”, a vergonha é o idioma do presente. E com Raduan Nassar, em “Um Copo de Cólera”, a fúria é um discurso — não para convencer, mas para sobreviver à perda. Em “Coração Tão Branco”, Javier Marías oferece um pacto: saber o que não se quer saber, ouvir o que não se disse. E viver com isso.

São livros que exigem do leitor o que nem sempre se quer dar: presença. E coragem. Para atravessar sem garantias. E sair — talvez — mais ferido, mas menos iludido. E, quem sabe, um pouco mais vivo.