O que a gente mais vê nas redes sociais é gente oferecendo curso para aprendermos a usar a inteligência artificial. Eles prometem responder à pergunta: como usar a inteligência artificial a seu favor?
Por enquanto, a melhor maneira de usar a inteligência artificial a seu favor é ser dono de uma empresa de desenvolvimento de inteligência artificial.
A segunda melhor maneira é montar um curso para ensinar como usar a inteligência artificial a seu favor.
As inteligências artificiais estão avançando bastante; muita gente já é capaz de usá-las em suas tarefas profissionais. É claro que, quando o cara começa a usar demais inteligência artificial em seu trabalho, ele fica grilado: será que essa parada está fazendo o meu trabalho melhor do que eu? Será que o meu chefe está sabendo disso?
O problema é que, às vezes, algo muito doido acontece: as inteligências artificiais alucinam e acabam atrapalhando. Alucinar é o termo usado para dizer que a inteligência artificial inventou informações — o que ainda acontece bastante. O problema é que a inteligência artificial alucina, mas quem é taxado de maluco e mandado embora é o cara que a usou para o seu trabalho.
Outro dia, um executivo de uma das Big Techs disse que, em apenas três ou quatro anos, os computadores já serão bem superiores aos seres humanos em matéria de programação. Em pouco tempo, portanto, os programadores perderão os seus empregos. O executivo só não revelou em quanto tempo os computadores roubarão o emprego dele.
Existe outro termo muito usado nessa área, que é singularidade, que designa o momento em que a inteligência artificial vai superar a inteligência humana. Segundo os cientistas e estudiosos, essa tal de singularidade está cada vez mais próxima. Talvez ela chegue mais cedo do que o esperado. A distância está cada vez mais curta — não por conta dos avanços das pesquisas em inteligência artificial, mas por conta do atraso cada vez maior da inteligência humana.
A inteligência artificial vai mesmo tomar conta de tudo: vai tomar os empregos, vai dizer o que a gente tem que fazer, o que a gente tem que gostar e, principalmente, o que temos que comprar. Só não vai nos dizer onde vamos arrumar o dinheiro para comprar o que ela vai nos dizer para comprar.
Por conta disso tudo, muita gente fala que a inteligência artificial tem que ser regulada, que é preciso criar regras claras para que ela não prejudique demais os seres humanos. Como essa tarefa de regular algo que não se entende muito bem é muito complicada, o pau sempre come solto nos debates e não se chega a nenhuma conclusão sobre que regras seriam necessárias. Mas parece que, outro dia, no meio de uma discussão acirrada sobre regulação de inteligência artificial, um dos debatedores deu uma ideia:
— Por que a gente não pede para a inteligência artificial ajudar a gente na regulação da inteligência artificial?
— Boa ideia! Assim a gente para de gastar tempo discutindo!
— Claro! E aí eu vou poder fazer o meu curso de “Como usar a inteligência artificial a meu favor”!
E dizem que é isso que está rolando: as inteligências artificiais já estão criando as regras que vão regular a si próprias.
Outro dia eu passei em frente ao meu computador e juro que vi um sorrisão na tela, mas acho que foi só impressão minha.