O único filme que você precisa ver neste feriado (confie em mim)

O único filme que você precisa ver neste feriado (confie em mim)

“Warfare” desarma qualquer expectativa de nobreza bélica ao instaurar, desde seu primeiro frame, um estado de tensão que não dá trégua. Não há espaço para discursos heroicos nem para bandeiras tremulando ao vento. O que acontece aqui é o pavor encarnado, o colapso do controle, a orquestra do caos. Dirigido por Alex Garland em parceria com Ray Mendoza, ex-militar cuja vivência real se infiltra no filme como sangue em tecido, o longa reconstitui o desespero de uma operação militar em Ramadi, em 2006, com uma urgência que dispensa qualquer contextualização narrativa. Não importa o objetivo da missão. O que importa é sobreviver ao próximo segundo. “Warfare” rasga a convenção do espetáculo e, em seu lugar, planta o desconforto necessário: o de se estar diante de algo que não deveria acontecer, mas que acontece, e sempre à custa de alguém.

Ao dispensar os mecanismos típicos de identificação, passados trágicos, romances esquecidos, jornadas de redenção, o filme se concentra exclusivamente no agora: um presente dilacerante, onde as decisões são tomadas entre um tiro e outro, e o medo não pede licença para se instalar. A câmera nunca abandona o chão e, com ela, o espectador também não. A montagem sufocante e a engenharia sonora perturbadora são menos instrumentos estéticos e mais dispositivos sensoriais, fazendo com que cada disparo reverbere no corpo como uma descarga elétrica. Se em “O Resgate do Soldado Ryan” a tensão se concentrou nos primeiros minutos, aqui ela se estende como uma corda prestes a arrebentar por mais de noventa. Cada movimento dos personagens, vividos com intensidade crua por D’Pharaoh Woon-A-Tai, Cosmo Jarvis e Will Poulter, transmite uma exaustão que não é apenas física, mas moral. São soldados, sim, mas antes disso, são corpos em colapso, presos a uma engrenagem que nunca hesita em triturar os que se movem dentro dela.

Essa experiência devastadora não se resume à performance dos atores ou à precisão com que o filme simula o campo de batalha. O que verdadeiramente assombra em “Warfare” é o retrato cruel da banalização da morte. A cada perda, o filme se recusa a oferecer consolo. Não há trilhas melancólicas, nem slow motion de despedidas comovidas. Há apenas o silêncio ensurdecedor daquilo que não pode mais ser revertido. E é nesse silêncio que a crítica mais contundente se insinua: a de que o horror não é exceção, mas regra. Que, por trás da retórica da honra, há contratos, acionistas e decisões tomadas sob ar-condicionado. Um espectador propôs uma lei fictícia e perturbadora: que os filhos dos poderosos sejam os primeiros a marchar rumo ao front. Não como vingança, mas como teste de coerência. Seriam ainda defensores da guerra, se o custo fosse pessoal?

“Warfare” não tenta resgatar a dignidade da guerra, ele a desidrata até o osso. E nesse gesto brutal, revela uma verdade frequentemente encoberta por câmeras lentas e hinos ao fundo: a de que não há glória onde há trauma. Ao mesmo tempo em que denuncia, sem precisar de slogans, a hipocrisia dos discursos oficiais, o filme também presta um tributo visceral à coragem silenciosa dos que, mesmo sabendo do absurdo, obedecem. Não para vencer, mas para proteger o outro ao lado. “Warfare” não é apenas uma crítica à guerra; é uma exumação daquilo que ela tenta enterrar: o sofrimento que persiste mesmo após os créditos finais. É um filme que ninguém deveria querer rever, mas que todos, sem exceção, deveriam ter a coragem de assistir.

Filme: Tempo de Guerra
Diretor: Alex Garland e Ray Mendoza
Ano: 2025
Gênero: Ação/Drama/Guerra
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★