5 livros que fazem parte do kit intelectual de Instagram

5 livros que fazem parte do kit intelectual de Instagram

Você provavelmente já viu um exemplar dessas criaturas em seu habitat natural: um café com parede de tijolinhos, uma taça de vinho branco às 11h da manhã e uma pilha de livros estrategicamente desorganizada. Eles não leem, eles “frequentam narrativas”. Não têm autores favoritos, mas “vozes curatoriais que dialogam com sua jornada”. Não anotam nas margens, fazem lettering com caneta dourada. Esses são os pseudo-intelectuais do Instagram: seres cuja opinião é medida em curtidas e cuja biblioteca foi montada por recomendação algorítmica e vergonha de parecer ignorante. Ler mesmo? Só se a lombada da edição for bonita. Preferem a estética da reflexão à reflexão estética.

O mais impressionante é que eles transformaram o ato de folhear um livro em performance de arte conceitual. Abrem o exemplar na página 17, colocam uma xícara em cima, tiram uma foto, citam Foucault (errado) e seguem para o brunch. Livros, para esse grupo, não são instrumentos de pensamento, mas acessórios emocionais, equivalentes literários de um tênis branco minimalista. O que vale é parecer profundo, mesmo que seja só na legenda. “Senti muito essa leitura”, dizem, sem dizer o que sentiram, nem onde, nem por quê. Com sorte, conseguem pronunciar o nome do autor. Se for em francês, melhor ainda.

E como identificar essas obras do kit básico de simulação cultural? Fácil: estão em toda foto com filtro sépia e frases como “um soco no estômago” (geralmente de quem nunca levou um). São livros que gritam: “olha como eu sou consciente, crítico, plural, ético e cansado”. Às vezes até são bons, mas o uso que se faz deles beira o crime estético. Se você já viu alguém dizendo que um ensaio filosófico “conversa com seu momento de transição”, parabéns: você está diante de um exemplar legítimo do leitor performático. A seguir, os cinco títulos mais populares entre essa espécie, e, para sua sorte, você nem precisa postar a estante depois de ler.

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.