5 cinco livros mais vendidos no mundo em 2025 (já traduzidos no Brasil), segundo a lista do The New York Times

5 cinco livros mais vendidos no mundo em 2025 (já traduzidos no Brasil), segundo a lista do The New York Times

Há, no gesto de eleger os livros mais vendidos, uma espécie de pacto narcísico: o espelho reflete a multidão e, de alguma forma, entroniza o que há de mais previsível — e seguro — nos sonhos de um tempo saturado de distrações. 2025 não fugiu à regra. Entre ficções que disputam a preferência em papel ou pixels, o triunfo da superficialidade resplandece, disfarçado de aventura ou de autoajuda romântica. Salva-se — como um corpo estranho, pulsando no fundo da lista — “James”, de Percival Everett. É ele quem rasga o verniz, impõe desconforto, arrasta o leitor para dentro do lodo racial e da memória ferida. Não há redenção fácil, nem catarse simplificada: apenas o silêncio áspero de quem, ao virar a página, sente a pele arder de vergonha, indignação ou impotência. Os demais, apesar de diferentes entre si, partilham o vício do alívio instantâneo. “Quarta Asa” e “Tempestade de Ônix”, de Rebecca Yarros, propõem a fantasia de coragem juvenil embalada em voos e dragões — metáforas cansadas de uma esperança que, no fundo, nunca desafia o abismo real. “Uma Vida e Tanto”, de Emily Henry, perfila as pequenas dores e alegrias de adultos pós-modernos, mas hesita em cavar além do espelho d’água: há beleza, sim, mas tudo flutua, nada afunda. “Até o Fim do Verão”, de Abby Jimenez, escapa para o humor romântico — e por vezes acerta na delicadeza —, mas evita o vértice das emoções insuportáveis. É, no fim, o triunfo do consolo sobre a vertigem, da narrativa domesticada sobre o risco literário. Talvez se leia tanto hoje justamente para não sentir demais. O paradoxo dos campeões de 2025 é esse: todos prometem a travessia, só um exige o mergulho. James, implacável, não consola nem absolve. Apenas recorda: a literatura, quando é viva, não é água mansa — é o escuro, denso e feroz, que nos arranca a ilusão de que sobreviver basta.