5 livros que ninguém recomenda — mas todo mundo devia ler

5 livros que ninguém recomenda — mas todo mundo devia ler

Ato solitário, a leitura é uma das experiências mais transformadoras que um ser humano pode ter. Por meio dela, somos transportados para mundos desconhecidos, instados a reconsiderar nossas crenças, convidados a sentir com mais profundidade e encorajados a pensar de forma mais livre. Ler é, portanto, mais do que decodificar símbolos numa página: é um processo terapêutico, que permite-nos descobrir não apenas novas realidades, mas também aspectos ocultos de nós mesmos. Desde os primórdios, as palavras servem para transmitir conhecimento, cultura, espiritualidade e emoção. Com o surgimento da escrita, a leitura se consolidou como uma ponte entre o indivíduo e o mundo, um canal para perpetuar o pouco que já sabemos e seguir em busca do inusitado, do novo, do que revigora. Da salvação.

Ao abrir-se um livro, toma corpo uma miríade de vozes, na boca de gente de outros tempos e lugares. Pode-se caminhar pelas ruas da São Petersburgo de Dostoiévski, sentir a dureza do sertão de Graciliano, ou vislumbrar a delicadeza do Japão de Murakami. Esses encontros com realidades diversas tocam-nos em zonas muito íntimas, ajudando-nos a compreender a vida à luz das necessidades secretas de cada um, que podem muito bem ser as nossas. Nas dores de um personagem manifestam-se emoções cujo fogo também nos queima; em suas palavras escondem-se as revelações de que precisamos; nas entrelinhas do que é contado estamos nós.

Outra dimensão reveladora da leitura está na elaboração do pensamento crítico. Quando nos deixamos absorver pelo que lemos, somos obrigados a interpretar, questionar, refletir. O texto não é mais uma verdade absoluta, mas um ponto de vista, algo que pode ser submetido a análises e discussões. Aos poucos, percebe-se a manipulação da linguagem, como as ideias são lançadas, com sutileza ou nem tanto, como discursos são forjados para convencer. Em adquirindo a habilidade de questionar o que chega-nos aos olhos, aprendemos a questionar o mundo ao nosso redor. Leitores bem-formados tendem a ser cidadãos mais conscientes, mais difíceis de serem enganados, mais propensos à autonomia intelectual. A leitura, então, mostra não só o conteúdo de um texto, mas as estruturas de poder e os mecanismos de jugo que mãos invisíveis operam na sociedade.

Escapar das delicadas teias do logro e da mistificação exige afinco. Nos cinco livros que escolhemos, resgatamos autores algo ostracizados, mas que hão de continuar pela eternidade, dirimindo as trevas da ignorância daqueles que os procuram, intenção límpida do checo Milan Kundera (1929-2023) em “A Insustentável Leveza do Ser” (1984), quiçá o que de forma mais clara expressa o confronto entre a busca por liberdade e o inferno do amor com o peso da opressão política e as escolhas que só respeitam a cada indivíduo. Ninguém nasce sabendo, e por essa razão cercam-nos os livros.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.