Bula conteúdo

O Pantanal como dicionário. A poesia que mudou a língua. Mas o Brasil só o reconheceu quando seus cabelos já eram brancos

O Pantanal como dicionário. A poesia que mudou a língua. Mas o Brasil só o reconheceu quando seus cabelos já eram brancos

Entre cheias e vazantes, Manoel de Barros escolheu a margem: fez da atenção um ofício, do mínimo um abrigo. Enquanto o Brasil trocava bonde por rodovia, rádio por televisão, regimes por promessas, ele afinou a língua no chão, devolvendo nomes limpos às coisas. O poema dele cabe num bolso e abre respiro em tela acesa. O Pantanal, pressionado, encontra na página um refúgio. Ler Manoel é aprender a baixar o volume e lembrar que a delicadeza também pode sustentar um país.

Ela viveu 29 anos como se fossem 100. Morreu deixando apenas um bilhete como despedida

Ela viveu 29 anos como se fossem 100. Morreu deixando apenas um bilhete como despedida

Ela nasceu em 1930, no bairro da Saúde, Rio de Janeiro, e morreu aos vinte e nove numa manhã de 1959. Entre uma casa apertada e as mesas de madrugada, atravessou auditórios, rádios, boates, e escreveu versos que pareciam medir o pulso do país. Os médicos lhe deram prazos; a rua lhe deu trabalho. Deixou um recado curto antes de dormir e nunca mais acordou. Este perfil busca a pessoa por trás da lenda: a menina tímida, a autora rigorosa, o corpo cansado e a coragem diária, contra o relógio.

O perigo da disseminação das piadas de pavê

O perigo da disseminação das piadas de pavê

De um dia para o outro a internet se encheu de vídeos de humor gerados por Inteligência Artificial. O primeiro que surgiu por aqui, pelo menos foi o primeiro que me chamou a atenção, foi o tal da Marisa de maiô, que realmente é engraçado. Mas parece que o texto é de um humorista de verdade. Depois dessa série de vídeos, apareceram milhares de outros vídeos gerados por IA, na verdade um monte de piadinhas de salão transformadas em ceninhas engraçadinhas, todas muito parecidas.

Bebendo na fonte de Ângela Ro Ro

Bebendo na fonte de Ângela Ro Ro

Não a conheci numa reunião dos alcoólicos anônimos. Não, isso não. Dotado da minha porção mulher que até então se resguardara — como diria Gilberto Gil — marcamos um encontro num bar situado entre Ipanema e Leblon. Só eu compareci. Eu a reconheci de longe, por causa do farol fulminante de seus olhos agateados e uma voz rascante informando ao maître que uma pessoa já não lhe aguardava mais.

Morre o gênio que enxergava uma orquestra no cair da chuva e uma sinfonia no riso de uma criança

Morre o gênio que enxergava uma orquestra no cair da chuva e uma sinfonia no riso de uma criança

Filho de sanfoneiro, nascido em Lagoa da Canoa em 1936, Hermeto Pascoal aprendeu cedo a transformar sombra em ouvido. Aos quatorze, partiu para Recife, tocou em rádios e bares, e descobriu que cada cidade é uma escola. No Rio e em São Paulo, integrou grupos decisivos, ampliou fronteiras, formou músicos. Cruzou palcos pelo mundo, escreveu diariamente durante um ano, ensinou que tudo pode soar. Viveu amores longos, guiou gerações, recebeu prêmios importantes. Morreu em 13 de setembro de 2025, no Rio.