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A Tempestade na Lira: como Shakespeare moldou Álvares de Azevedo

A Tempestade na Lira: como Shakespeare moldou Álvares de Azevedo

Um mestre da crítica ensinou que ler é devoção e inteligência. Este ensaio percorre o encontro entre um dramaturgo elisabetano e um poeta romântico brasileiro, rastreando como dois personagens — o espírito aéreo e a criatura terrosa — moldaram uma obra confessional e boêmia. Do palco à página, a tensão entre sonho e carne atravessa séculos e funda uma tradição. A memória de uma primeira leitura aos treze anos alimenta a investigação e revela como a crítica pode ampliar o encanto sem domesticar a potência da poesia.

Quando o meu amor pela vida estiver secando

Quando o meu amor pela vida estiver secando

Na meninice e na juventude, priorizava o ócio, o lúdico, a poesia, o amor platônico, os sonhos mirabolantes e uma gama de insignificâncias que não enchiam a barriga de ninguém, como diria o meu velho. Como podia uma canção estorvar o meu dia daquele jeito? Nunca fora fluente no idioma inglês. Tirei do bolso e abri a minha própria Caixa de Pandora: o telefone celular.

Quem foi que disse que a poesia não morre? Aos 66 anos, ele partiu. Antes, fez o mundo parar para ouvir o Brasil

Quem foi que disse que a poesia não morre? Aos 66 anos, ele partiu. Antes, fez o mundo parar para ouvir o Brasil

Ele nasceu no Rio, 1913, numa casa em que piano e jornal abriam o dia. Formou-se em Direito, estreou em livro antes de aprender a redigir telegramas. Diplomata desde 1943, passou por Los Angeles, Paris, Montevidéu; em 1969, o AI-5 o afastou e lhe entregou a noite inteira. Viveu nove casamentos, escreveu e recomeçou com a mesma fé. Fez da palavra passaporte e da rua sala de aula. Morreu em 1980, aos 66, e continua presente onde alguém precisa respirar melhor.

Panelas vazias. Filhos com fome. Uma mãe arrancou do lixo um caderno. Reescreveu a história do Brasil

Panelas vazias. Filhos com fome. Uma mãe arrancou do lixo um caderno. Reescreveu a história do Brasil

Nas bordas do Tietê, um bico de luz vacila; Carolina pesa arroz, contas, palavras. Chega do interior, ergue barraco no Canindé, empurra carroça, aprende a registrar preço, fome, ameaça de despejo. Um repórter encontra cadernos encordoados; a cidade, enfim, escuta. Vêm palcos, dedicatórias, porcentagens miúdas, promessas curtas. Ela grava canções; o mercado distrai o ouvido. Em Parelheiros, o fôlego rareia; vizinhos acendem lâmpadas, o bairro despede-se. Ficam cadernos, vozes de sala de aula, bibliotecas de bairro, meninas copiando frases.

O Brasil que consagra também apaga: o gênio que foi comparado a Guimarães Rosa e morreu esquecido

O Brasil que consagra também apaga: o gênio que foi comparado a Guimarães Rosa e morreu esquecido

Nascido em 1936, em Raizama, na Chapada dos Guimarães, Ricardo Guilherme Dicke cresceu em Cuiabá como primogênito de sete irmãos. Estudou filosofia no Rio de Janeiro, voltou ao Mato Grosso em 1975 e seguiu carreira discreta como professor, pintor e escritor. Vivia entre a precariedade e a fé na literatura, longe do eixo Rio-São Paulo, sustentando uma obra que refletia dureza e grandeza humanas. Morreu em 2008, praticamente esquecido, deixando um legado que hoje retorna como constelação recuperada pela crítica e pela academia.