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O perigo da disseminação das piadas de pavê

O perigo da disseminação das piadas de pavê

De um dia para o outro a internet se encheu de vídeos de humor gerados por Inteligência Artificial. O primeiro que surgiu por aqui, pelo menos foi o primeiro que me chamou a atenção, foi o tal da Marisa de maiô, que realmente é engraçado. Mas parece que o texto é de um humorista de verdade. Depois dessa série de vídeos, apareceram milhares de outros vídeos gerados por IA, na verdade um monte de piadinhas de salão transformadas em ceninhas engraçadinhas, todas muito parecidas.

Bebendo na fonte de Ângela Ro Ro

Bebendo na fonte de Ângela Ro Ro

Não a conheci numa reunião dos alcoólicos anônimos. Não, isso não. Dotado da minha porção mulher que até então se resguardara — como diria Gilberto Gil — marcamos um encontro num bar situado entre Ipanema e Leblon. Só eu compareci. Eu a reconheci de longe, por causa do farol fulminante de seus olhos agateados e uma voz rascante informando ao maître que uma pessoa já não lhe aguardava mais.

Morre o gênio que enxergava uma orquestra no cair da chuva e uma sinfonia no riso de uma criança

Morre o gênio que enxergava uma orquestra no cair da chuva e uma sinfonia no riso de uma criança

Filho de sanfoneiro, nascido em Lagoa da Canoa em 1936, Hermeto Pascoal aprendeu cedo a transformar sombra em ouvido. Aos quatorze, partiu para Recife, tocou em rádios e bares, e descobriu que cada cidade é uma escola. No Rio e em São Paulo, integrou grupos decisivos, ampliou fronteiras, formou músicos. Cruzou palcos pelo mundo, escreveu diariamente durante um ano, ensinou que tudo pode soar. Viveu amores longos, guiou gerações, recebeu prêmios importantes. Morreu em 13 de setembro de 2025, no Rio.

A filha morreu de fome. O marido foi fuzilado. Ainda assim, ela deu à poesia do século 20 uma língua nova

A filha morreu de fome. O marido foi fuzilado. Ainda assim, ela deu à poesia do século 20 uma língua nova

Marina Tsvetáieva atravessou revolução, fome, exílio e vigilância, e deixou uma obra de precisão feroz. Este perfil recompõe as décadas entre Moscou e Paris, 1892 a 1941, da perda de Irina ao retorno sob suspeita, do fuzilamento de Efron à evacuação para Elábuga. Com datas na carne e ouvido rigoroso, acompanhamos a poeta que transformou sobrevivência em cadência. Novas traduções recolocam sua voz no presente; e o resto é leitor e mesa: as palavras ainda seguram o dia, mesmo quando a cidade aperta e a noite não cede.

Quase aos 50, um lavrador de mãos rachadas publicou o primeiro livro. Meio século depois, seus versos seguem ferindo e curando

Quase aos 50, um lavrador de mãos rachadas publicou o primeiro livro. Meio século depois, seus versos seguem ferindo e curando

Um velho de Assaré recita, e o vento leva a fome que virou canto. Este perfil acompanha Patativa do Assaré, do sítio Serra de Santana a rádios de válvula, do roçado à página impressa. Menino de 1909, olho ferido, escola breve; cantador que fez da cadência do trabalho um idioma. Em 1964, “A triste partida” ganhou o Brasil; a casa seguiu simples. Aos 93, o corpo descansou, o canto ficou no ar. Um legado popular, urgente: palavras que repartem água, pedem justiça e acendem coragem, em praças, feiras e cozinhas.