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A livraria onde os livros ficam em banheiras e gôndolas para não afundar — e ela existe mesmo

A livraria onde os livros ficam em banheiras e gôndolas para não afundar — e ela existe mesmo

Num beco úmido de Veneza, onde o mar invade as páginas e a memória corre risco de afogamento, sobrevive a Libreria Acqua Alta. Uma livraria feita de banheiras, gatos e resistência. Criada por Luigi Frizzo, ela não apenas vende livros: desafia o tempo, o turismo e a lógica de mercado. Um espaço onde volumes manchados flutuam como relíquias e o improviso vira arquitetura. Entre a cheia e o esquecimento, o lugar transforma ruína em símbolo. Uma crônica de papel que ainda resiste a desaparecer.

Ele tinha Alzheimer, mas se lembrava de um único livro todos os dias: Cem Anos de Solidão

Ele tinha Alzheimer, mas se lembrava de um único livro todos os dias: Cem Anos de Solidão

Elias foi diagnosticado com Alzheimer, mas nunca se ausentou por completo. Todos os dias pedia seu livro — “Cem Anos de Solidão” — e o abria na mesma página, como se ali estivesse ancorado. Ele não lia: habitava Macondo. Lembrava de seus personagens, sentia sua chuva interminável, caminhava em suas ruas de barro. Enquanto o mundo real se dissolvia, Elias permanecia lúcido onde todos já tinham enlouquecido. Esta é a história de um homem que, antes de esquecer tudo, fez morada na ficção e de lá nunca mais voltou.

A livraria mais bonita do mundo Foto / R.M. Nunes

A livraria mais bonita do mundo

Na Rua das Carmelitas, no Porto, uma porta vermelha revela mais que uma livraria: um templo de madeira e luz. A Livraria Lello não celebra apenas os livros, encarna a memória da leitura. Sua escadaria ondula como tempo líquido; seu silêncio impõe respeito. Fundada em 1906, resistiu ao esquecimento e passou por restaurações em 1995, 2016 e 2017. Turistas entram em fila, mas saem tocados. Ali, o livro não é mercadoria — é presença. A beleza persiste. A Lello não se visita, se vive.

Encontro com Régis: entre o flamenco e novas utopias

Encontro com Régis: entre o flamenco e novas utopias

“A nova utopia é uma borboleta negra, desatenta, com olhos exuberantes.” Assim abre Régis Bonvicino a primeira das quatorze partes de “A Nova Utopia”, poema que dá nome ao livro que culminou na derradeira publicação que comporia a sua obra. Tive a oportunidade de receber o livro em mãos, presenteado pelo próprio Régis, quando nos encontramos na Espanha em finais de 2023. E tornou-se, desde então, um daqueles volumes que retornam à mesa de cabeceira, com reaberturas noturnas e leituras fragmentadas.

Ler para esquecer a fome: histórias de leitores em vulnerabilidade extrema

Ler para esquecer a fome: histórias de leitores em vulnerabilidade extrema

Na borda esquecida do Distrito Federal, onde o concreto esfarela e a fome não pede licença, um grupo de adolescentes encontra refúgio onde ninguém procuraria: nas páginas. Entre muros rachados e ruas sem nome, eles se reúnem para ler como quem respira de novo. Livros usados, palavras emprestadas, pedaços de histórias que servem de abrigo. O mundo ali não melhora, mas por algumas horas, dói menos. Leem para escapar. Leem para lembrar que são. Leem como quem segura um fio invisível no meio do apagão.